Um Encontro de Almas

 

Um Encontro de Almas

“Ela é dócil e macia, clara e serena, espelho matinal que a paisagem das cousas reflete, com a lucidez constante do cristal. Tendo instinto por poesias, filosofia, é um ser mansamente natural, em cuja ingenuidade há uma alegre intuição universal. No poente do meu jardim… o olhar profundo alonguei, sobre as árvores vazias, aquelas em cujo espírito infecundo soluçavam silenciosamente agonias. E lá, nas olmeiras, ninhos onde vencidas de fadiga, a alma inocente dos pássaros se abrigava e a tristeza de muitas almas chagadas se recolhia. Então, num silencioso desencanto, eu adormeço… lentamente, enquanto pela fria fluidez azul do espaço eterno em omissão voluntária de coisas que deveriam ser ditas, sorria a ironia longínqua das estrelas. Já a lua transmontava as montanhas… cães ladravam ao longe, em sobressalto; na granja das herdades, o cântico dos galos estalava, desoladoramente pelos ares, acordando as distâncias esquecidas. As horas morrem sobre as horas… Nada! E ao nascente, com a sombra recolhida, acordo pensando: Se o ideal da vida não veio nesta noite, virá amanhã, em outra jornada. És a minha verdade, ó sonho eterno, ó fadário indevassável, e a ti entrego, ao meu sereno fatalismo cego, a nossa linda e divina inocência!…”

 

                                                                                                                                                                     Pi-Nath