O Caldeirão de Conchas

O Caldeirão de Conchas

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Descubra a pérola na concha

Por que não podemos coletar conchas nas praias? Conheça os impactos negativos desta prática

1ª Concha 

O cão que contemplava a lua

O brilho dourado da tarde inundava de ponta a ponta as colinas e os campos enodoados e secos da fazenda dos Menezes. Os filetes da luz dourada penetravam os cantos que ainda resistiam à chegada do aconchegante brilho prateado da lua que começava a banhar os horizontes longínquos de toda a região.

Por do sol no fim da tarde de junho

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O banco de madeira no lado leste da varanda da casa da fazenda estava um pouco empoeirado e desgastado  pela ação do  tempo que ficara desocupado desde a última vez que aqui me sentei.

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Ao lado, como um guardião fiel e comportado, estava o meu fiel amigo “thor”, o cão que adorava contemplar a lua cheia. Fazia isto desde que a silhueta tênue da lua nova riscava o céu nos seus dias de reclusão luminosa.

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Eu sempre me perguntava o porquê daquele comportamento costumás desde pequeno. Os outros cães da região latiam de forma normal à presença de qualquer movimento na noite inquieta enquanto o “thor” contemplava a lua, absorto. Isto me intrigava ao ponto de querer compreender o seu comportamento.
Um certo dia, decidi me colocar no lugar do cão e vivenciar o que ele pensava, mesmo estando certo de que nunca aquilo fazia sentido algum de minha parte. Mas insisti, arquitetando meus pensamentos humanos no cão. Imaginei-o contendo os seus impulsos diante de belas cadelas em um desfile para cães lá no alto do céu. Criei uma outra situação em que ele ficava confuso diante de tanta variedade de comidas sem saber, direito, o que comer primeiro. Em outra situação imaginei-o relaxado em um sofá, esparramado entre as pernas dos seus donos.
Foram tantas as outras situações que cheguei a ficar aborrecido comigo mesmo pelas tolices que imaginava. Vai levar muito tempo ainda para que cheguemos a compreender o universo de pensamentos dos animais, se é que um dia vamos conseguir.  Certamente vamos ficar surpreso quando se este dia chegar.
Bem! O que sei diante do meu cão absorto olhando para a lua é que ele estava, talvez, admirado pelo brilho que inundava toda aquela silenciosa região. Ele não poderia esboçar nenhum esforço para compreender o círculo prateado e o enodoado de crateras que se sobressaía em destaque, nem tampouco o que era aquilo que o hipnotizava constantemente lá no alto, fora do seu alcance.  Ele certamente, talvez, não tivesse a menor ideia do que estava olhando. Com certeza apenas olhava sem compreender o que via hipnotizado diante da luz.
O gesto do meu cão tem uma mensagem e um significado muito profundo que transcende qualquer expectativa e nos faz mergulhar em reflexões apaixonantes.
Não há diferença entre o cão, eu e você no que se refere a aprofundar o olhar para o desconhecido. O gesto do cão diante do brilho da lua envolve, talvez, a influência que a mesma exerce sobre as criaturas vivas inexplicavelmente, afetando o seu comportamento distintivamente. Apenas isto. O cão não entende nada.
O mesmo raciocínio envolve a criatura humana, só que direcionando o sentido em outra direção: O mistério cósmico e da natureza que nos cerca. O mistério do desabrochar das flores na primavera, tornando a estação a mais bela para o nosso encantamento.
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A beleza da água fluindo em um pequeno córrego, o vento espalhando essências odoríferas pelos campos floridos, o voo do beija flor, o chilrear dos pássaros na mata, o fenômeno dos salmões na desova, a ausência da sombra frente à luz etc. etc.
O que torna o mistério mais intrigante ainda é sabermos que há no universo mais estrelas e corpos celestes que grãos de areia em todas as praias da terra. Isto é fascinante e ao mesmo tempo perturbador.

Como surgiu tudo isto e que sentido tem diante da nossa frágil existência. Foge completamente a nossa compreensão por maior e melhor que seja o nosso conhecimento. Nada melhor do que a ciência para nos transmitir que o mistério é mais complexo do que possamos imaginar. Mesmo portando inúmeros títulos doutorados e galgando elevadas posições no cabedal do conhecimento, não nos é permitido o conhecimento total. Quer queiramos ou não, diante do mistério absoluto, somos iguaizinhos ao “thor”. Não compreendemos nada. Somos por demais vaidosos, achando que entendendo um pouco, entendemos o mistério e pronto. A nossa ciência por mais veloz que seja no desbravamento de fatos, jamais conseguirá chegar ao fundo do conhecimento total, pois é como camadas de folhas sobre camadas de folhas no tempo geológico. Cada vez que removemos uma camada, outra e mais outras aparecem e nunca chegaremos ao fundo.
Se o que conhecemos da natureza e do cosmo é muito pouco, como é possível alguém dizer que conhece Deus e o Seu Universo. Assim dizem os religiosos e os pretenciosos da universalidade.
Não! Definitivamente não! Somos todos como o “thor”. Temos que observar a natureza e todo o universo em silêncio, não proferindo nada. Pois, não entendemos nada. Nada mesmo.
Pi-Nath