Memórias de um velho banco de madeira – 4º Capítulo – O burro, o tambor e a fumaça

Memórias de um velho banco de madeira.

  O burro, o tambor e a fumaça.

Este velho banco de madeira está um pouco desolado hoje, pois só tem sentado aqui pessoas com problemas relacionados com o seu íntimo ferido por questões de fracassos amorosos. Mesmo tendo conhecimento de tudo o que se passa com aqueles que aqui sentam, abstenho-me de trazer a tona, o que está ligado ao íntimo pessoal de cada um. Esta é a postura que estou acostumado. Oh! Mas parece que vai haver alguma mudança por aqui. Há ali, na trilha onde estou postado, um casal muito descontraído. Esta não é a primeira vez que aqui vem.  Já estiveram aqui em várias outras ocasiões. Porém, nunca sentaram neste banco. Por essa razão, nada sei sobre eles. Estão ali apreciando a linda paisagem daqui e, gargalham efusivamente. Ha! Ha! Ha! Ha!…Alguma coisa muito engraçada é o teor da conversa. Estão vindo em minha direção. Eu gostaria que aqui se sentassem. Quem sabe alguma coisa mude o meu humor. Ah! Sentaram… Ha! Ha! Ha! Ha! Ha!… Este velho banco de madeira está gargalhando. Eu vou ri desta narrativa toda vez que eu me lembrar dela. Ha! Ha! Ha! Ha! Ha!…Belíssima história!  É para rir muito e, chorar e se emocionar também. Tudo começa assim:

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Uma tarde luminosa, mais luminosa que as tardes anteriores estava acontecendo lá no alto do Grotão de São Tomé . Era a época mais quente e luminosa do verão seco e esturricante daquele ano nos confins do mundo. A camisa solta do moço forte do grotão não parava de pingar suor. Era usada para enxugar o líquido que escorria daquele rosto avermelhado, fruto do calor insuportável e escaldante lá do alto da grande e escarpada grota. Aquele canto do penhasco era o único lugar onde ainda existia uma touceira aqui, outra ali, de capim que estava sendo colhido para alimentar os poucos animais que o moço despojado mantinha junto a sua casinha mais abaixo do grotão. Era um local  de difícil acesso, escolhido para ser um lugar de moradia, apenas por alguém muito destemido como aquele moço. Não era atoa que o seu nome conhecido tinha um quê de exclusividade: Caboré! Ninguém sabe o que é e, o quer dizer caboré, mas aquele moço era… “Um caboré”
Moço valente e prático que lutava para sobreviver naquele lugar escarpado. Tinha que ver para crer, o Grotão de São Tomé, o lugar onde morava o Caboré. Havia deixado a sua família muito cedo para viver sozinho. Criava duas sobrinhas pequenas com os nomes de Marcinha e Solamina, sobreviventes de uma grande enxurrada que um dia levou os seus pais. Tinha uma casinha lá no alto da montanha, na parte mais baixa do grotão. Havia um cercadinho onde criava dois porquinhos e algumas galinhas. Tinha também um burrinho e uma vaca que dava um pouquinho de leite todos os dias. Mantinha um roçadinho de milho e mandioca num terreno  difícil de trabalhar. Tinha também um cachorro cego, mas muito eficiente no trato com gambás e lobos da serra. Seu nome era Cambé, apelido que lhe dera porque era um cão que gostava muito de mel. Seu grande trunfo para viver naquele lugar perdido no fim do mundo era uma carroça muito resistente que tinha e o seu estimado burro Geremias. Só aquele burro tinha resistência e o jeito certo de andar pelas encostas do Grotão de São Tomé.
No tempo apertado da seca, era o Caboré que com sua carroça e seu estimado burro se abastecia de água trazida lá do fundo do vale. De tanto subir do sopé do Morrão da Santa Fé até o Grotão de São Tomé, Caboré lhe deu o apelido de o “burro de São Tomé”.
Apesar das grandes dificuldades que enfrentava era um moço feliz com suas duas sobrinhas, mas um solitário recatado. Faltava-lhe uma companheira à altura do seu perfil de destemido. Mais abaixo, na mesma linha do grotão havia uma outra família também notável no trato de viver em dificuldades. Era a família da Salomé com suas duas irmãs mocinhas, Amelinha e Andulinha e, Francisquinha sua outra irmã pequena. Esta última sofria com um mal no seu sistema nervoso decorrente de um tumor no cérebro sem tratamento, pois não tinha cura. Padecia muito aos olhos de todos. Juntas viviam com seus pais, seu  Nhoé e dona Armélia. Tinham, também, um cercadinho com porcos e galinhas, mas não tinham nenhuma vaquinha. Tinham cabrinhas e uma égua já velhinha apelidada de Ana da lua, pois tudo nela era redondo como na lua, desde o focinho, cabeça e quadril. De tanto subir e descer o Morrão da Santa Fé já não tinha mais força e estava descadeirada.
Tinham que ter muita fé para viverem no Morrão da Santa Fé, junto ao Grotão de São Tomé. Salomé, moça caseira prendada e muito dedicada aos trabalhos de casa tinha uma mão milagrosa no trato com a cozinha. Tudo o que cozinhava tinha um gosto apreciado até demais. Escondia no interior de seu corpo forte e saudável o desejo de ter um grande amor. Conhecia desde há algum tempo o Caboré, moço forte e destemido lá do alto da serra que no tempo da seca abastecia sua casa com água trazida lá do vale. Não nutria por ele afeição nenhuma, até que um dia Caboré machucou o pé e Salomé teve de socorrê-lo. Uma troca de olhar assim de perto foi o suficiente para surgir um arrebatador amor à primeira vista. Estava escrito nas estrelas de que a Salomé tinha nascido para o Caboré e, o Caboré tinha nascido para a Salomé.
Os pais da Salomé aprovavam o namoro, pois a Salomé não encontraria ninguém melhor que o Caboré. A Salomé tinha na cara, um quê do caboré que ninguém sabe o que é. Não demorou muito e o casamento teve de ser realizado. Eram criaturas muito simples e não tinham como fazer festas, a não ser coisas simples da cozinha da Salomé, tudo cozido com galinha, mandioca, milho e mel. Os únicos convidados eram o padre lá de baixo da vila do sopé do morrão da Santa fé e o seu Gabriel, lá do fundo do vale onde desaguavam as águas do riacho do Grotão de São Tomé. Foi um dia abençoado, pois as duas famílias tiveram que se juntar; as sobrinhas do Caboré e as irmãs da Salomé. Ficou então, a casinha lá do alto do Grotão de São Tomé para viverem juntos, Caboré e Salomé.
O primeiro benefício desta união foi o amor intenso de Salomé por Caboré e, a Francisquinha irmã mais nova de Salomé que não tivera mais crise. Se existia, na terra, alguém que pudesse viver mais perto do céu, este alguém era o Caboré e a Salomé aconchegados na casinha lá no alto do Grotão de São Tomé.
Dias depois do casamento, a Salomé perguntou para o Caboré, do quê que eles iriam viver. Caboré lhe respondeu que além de saber cuidar da casa, sabia também fazer biju de farinha de mandioca com mel. Salomé pediu para que ele fizesse um biju com mel. Atendido o seu pedido, Salomé provou o biju com mel de Caboré. Throuuu! Jogou fora e disse que aquele biju com mel do Caboré, nem os porcos e o Cambé iriam comer. Caboré lhe disse que o biju com mel era a única coisa que sabia fazer. Salomé lhe disse, então, vou fazer um biju com mel e as ervas lá do Morrão da Santa Fé. Fez o biju e deu para o Caboré provar.
Nhanc! Nhanc! Nhanc! Fala Caboré! Retrucou a Salomé.  Caboré falou: Delícia! Delícia! Este é o biju dos deuses aqui do Grotão de São Tomé. Era um biju com mel, mas não tinha gosto de mel e doce. Era um biju com sal, mas não tinha gosto de sal e salgado. Resolveram dar o nome de “Biju da Salomé”. Decidiram fazer aquele biju para vender lá na feirinha da vila abaixo do sopé do Morrão da Santa Fé. Assim fizeram. Prepararam a carroça com cestinhas cheias de bijús da Salomé.  Desceu, então, o Caboré na carroça puxada pelo geremias, o impávido burro de São Tomé com os bijus da Salomé. Gritava o Caboré: “Olha o biju da Salomé! Chegou o biju da Salomé!” Desceu pelo caminho difícil do grotão e do morrão, gritando que chegou o bijú da Salomé. Chegou à feirinha e durante o dia foram poucos os bijus da Salomé que conseguiu vender. Voltou para casa à noitinha, cansado e faminto, tanto o Caboré como o burro de São Tomé. Salomé foi receber o Caboré que tinha perdido a voz de tanto gritar, “o biju da Salomé.” Resolveu então o moço destemido consertar o tambor que guardara há tanto tempo com o couro do lobo da serra que levou a pior numa luta com o Cambé que mesmo cego lutou contra o lobo para salvar as galinhas do Caboré. Afiou e afinou o tambor, não mais gritando o “biju da Salomé”, mas tocando o tambor para chamar os curiosos para vender o “biju da Salomé”. Funcionou! E, muito bem! Descia a estradinha do grotão e do morrão, tocando o tambor e já vendendo o “biju da Salomé.” Não precisava chegar até a feirinha lá da vila, pois vendia todos os “bijus da Salomé”, antes de chegar lá na feirinha. O Caboré não mais precisava gritar. Era o toque do tambor que chamava as pessoas que moravam um pouco afastado da estrada para comprar o “biju da Salomé.” Como poderemos saber que vai haver os “bijus da Salomé.”para podermos comprar? Perguntavam ansiosos os moradores apreciadores dos “bijus da Salomé.” Caboré lhes respondia: Basta olhar, todos os dias, lá pro alto do Grotão do São Tomé. Se havia uma fumaça branca era porque estavam sendo assados, os Bijús da Salomé. Os moradores sabiam então, que, lá vinha o Burro de São Tomé, o tambor do Caboré e os bijus da Salomé. Assim ganhavam a vida, o Caboré e a salomé.
Os bijus eram feitos com a pureza do amor de ambos. Passaram então a cuidar melhor do seu Nhoé, da dona Armélia, das meninas e principalmente da Francisquinha com a sua doença.
As coisas melhoraram para todos.  As meninas podiam ir à escola com um vestidinho e um calçado melhor, os animais já comiam um pouco de ração e, o Caboré trouxera um gerador da cidade para que tivessem luz em casa e verem televisão. O burro de São Tomé, o cachorro Cambé e a égua Ana da lua eram os animais de maior admiração do Caboré e de toda a família da Salomé.  De novo, se existisse na terra alguém que pudesse viver mais perto do céu, este alguém era o Caboré e toda a família da Salomé.

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O alto do grotão

Todos os finais de tarde, Caboré levava a Salomé lá para o alto do Grotão de São Tomé para verem juntos, o por-do-sol e a chegada da noitinha que eram as visões dos céus que Deus lhes ofertava quase todos os dias em gratidão pelo amor do Caboré pela Salomé e da Salomé pelo Caboré.

  O por-do-sol lá do alto do grotão.

O diálogo dos dois lá no Alto do Grotão de São Tome:
Salomé – Caboré, faz pra eu uma puesia!
Caboré – Salomé, eu não sei fazer puesia!
Salomé –  Faz uma nem que seja piquitchitita!
Caboré – Tá bão, lá vai! Salomé, mermo que teus pé tenha muito xulé, eu vou beijar os teus pé, iguarzinho o gambá beija teu chinelo sujo de mé.
Há! Há! Há! Há!Há!…
O gargalhar engraçado do Caboré e da Salomé ecoou pelo Grotão de São Tomé e contaminou o Morrão da Santa Fé.
Diálogo:
Caboré – Salomé, quando a gente casou nóis num tinha muito recurso e nóis não tivemos lua de mé! Num foi?
Sim Caboré! Nóis num teve lua de mé.
Caboré – Salomé, agora que a gente tá miór, vamos fazer uma lua de mé lá no moté do seu Xexéu?
Oh! Caboré, vamo sim!  Respondeu entusiasmada Salomé.

           O anoitecer lá do alto do grotão.

 
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Na tarde do dia seguinte, Caboré e a Salomé prepararam a carroça enfeitando desde as rodas até o topé do burro de São Tomé. Partiram então os dois jovens apaixonados, do Grotão de São Tomé passando pelo Morrão da Santa Fé na carroça puxada pelo burro de São Tomé.
Chegando lá no motel, na estrada perto do sopé, Caboré foi saudado pelo seu Xexéu, dono do motel.
-Bem vindo meu amigo Caboré e sua estimada esposa Salomé.
Na simplicidade e na serenidade da vida, lá estavam os dois recém casados fazendo aquilo que faz parte da vida.
Adentraram aos aposentos que tinha um cheiro de mofo, pois depois que a estrada foi desativada ninguém mais procurou o motel do seu Xexéu.
Desfrutaram, então, da tão desejada lua de mel que tanto as noivas sonham. Que romântico!

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O Geremias, o burro de São Tomé não escondia certa inquietação. Bastou o burro não ver mais ali perto o Caboré, desvencilhou-se da carroça enfeitada e aos pinotes saiu em disparada em direção ao Morrão da Santa Fé.
Vendo então o que acontecia, o seu Xexéu caiu na gargalhada. Há! Há! Há! Há! Há! … Homem cheio de humor não parava de rir. Imaginou então: Que o geremias, o burro de São Tomé, vendo que o Caboré trouxera a Salomé para passar a lua de mel no motel do seu Xexéu, correu em disparada e foi buscar, lá no Morrão da Santa Fé, a Ana da lua, a égua da Salomé para passar a lua de mel no motel do seu Xexéu. Lá chegando o burro ouviu da égua: Imagina, se eu, uma dama de respeito vai andar lá no motel do seu Xexéu!!! O burro ficou triste e desapontado sumiu.
Há! Há! Há! Há! Há! …
Assim, a história se espalhou por todo o vale.
Na manhã cedo do dia seguinte, Caboré e a Salomé não acreditavam no que viam: Cadê geremias, o burro de São Tomé??? Desapontados e profundamente chateados, deixaram a carroça no motel aos cuidados do seu Xexéu. Partiram transtornados de volta para casa. Depois de três horas andando a pé, Caboré e Salomé chegam ao sopé do Morrão da Santa Fé, faltando ainda subir a pé até o Grotão de São Tomé. Depois que chegaram lá, sabendo que quase tudo dependia do burro de São Tomé, um perguntou ao outro: E agora???
Há um pensamento que vaga entre os povos de que, algo ruim quando acontece, vem sempre acompanhado de outro algo ruim. Não bastou terem perdido o burro de São Tomé que, só ele andava pelo Grotão de São Tomé, pois assim que chegaram em casa, uma mudança brusca de tempo se fechou cobrindo toda a região montanhosa de uma chuva tempestuosa. Ventos e chuva desordenados adentraram o grotão levando tudo que encontravam pela frente. Parte da casa, as galinhas e o galinheiro todo, foi tudo levado pelo vento que os atirou no grotão e levados pela água que ali se formou. Dentre as perdas estava também a principal ferramenta de trabalho do Caboré: O tambor do Caboré que anunciava o biju da Salomé. Só sobraram o Cambé, o cachorro cego, a vaquinha e os porquinhos assustados. Depois do vendaval eles se sentaram de mãos dadas como sempre faziam, olharam um para o outro com um semblante suave e sereno e disserem um ao outro: Graças a Deus estamos vivos e, é o que importa. Não perdemos nada que não possa ser recuperado de volta. Mantiveram a fé, a paz e a esperança. O amor de um pelo outro se fortaleceu mais ainda diante de dificuldades que estavam por vir. Não tinham idéia ainda do que iria acontecer. O povo do vale não viu mais a fumaça lá no alto do Grotão de São Tomé. Não viriam mais o burro de São Tomé, o tambor do Caboré e nem mais o biju da Salomé. A única coisa que continuava na cabeça do povo da região era a história do geremias, o burro de São Tomé que fora buscar, lá no Morrão da Santa Fé, a égua Ana da lua para levá-la ao motel do seu Xexéu. Como a Ana da lua não quis acompanhar o geremias, o burro decidiu sumir. Esta foi a estória que o seu Xexéu contou quando o geremias saiu correndo do motel.
Em situações como esta, uma série de acontecimentos se sobreporão um depois do outro. Os poucos recursos econômicos de que os dois dispunham começaram a ser ameaçados pela existência de necessidades a serem cumpridas. Os poucos animais que restaram depois da tempestade não mais se alimentavam de rações. Os bijus da Salomé deixaram de ser fabricados e as coisas começaram a se escassear. Salomé e o Caboré não perdiam as esperanças e se mantinham na fé de que tudo voltaria ao normal. Só não sabiam quando. A estabilidade que dominava o emocional de todas as pessoas da família começou a falhar. A Francisquinha que dependia em muito da alegria de todos em sua volta começou a perceber a dificuldade no ar. Sua saúde foi sendo minada pela falta de coisas básicas em casa e a fragilidade foi se alojando no coraçãozinho já fraco daquela menina sonhadora. Caboré e a Salomé não perdiam a fé, mas já se sentiam, também, fragilizados. Seu Nhoé e a dona Armélia não mais esboçavam sorrisos e, também se sentiam desanimados.

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Salomé tinham uma boneca de barro que para ela parecia uma santa. Santa esta guardada com carinho junto às poucas coisas que a Salomé tinha em um baú velho. Não tinha pernas nem braços e parte da cabeça estava danificada, mas para a Salomé ainda era uma santa. Tinham uma espécie de cabelo em pé e os olhos azuis feito safiras azuis, mas não tinha nome. Montou um altarzinho de pedras dentro de casa e começaram todos, a fazer novenas logo que a noite chegava. As coisas foram se complicando para todos, principalmente para a Francisquinha, mas a fé nas novenas se fortalecendo cada vez mais. Um médico lá da Vila do Sopé do Morrão da Santa Fé veio visitar a família da Salomé e lhes disse que a Francisquinha tinha pouco tempo de vida, talvez alguns dias. Dissera-lhes também que os últimos sinais da menina seria uma palidez generalizada, paralisação de suas pernas e braços e, queda acentuada de temperatura. Nessa altura, nada mais poderia ser feito. Caboré e a Salomé sentiam um nó na garganta, mas não perdiam a fé. A novena começava assim: Oh! Minha Santa do Cabelo em Pé, faça a Francisquinha se curar. Traga de volta pra casa o Burro de São Tomé para que o Caboré continue a vender o biju da Salomé. Faça tudo voltar ao normal para que a fumacinha branca lá do alto do Grotão de São Tomé alegre o povo do vale com o biju da Salomé.  Assim começava a novena que já se transcorria por mais de duas semanas.
Bem! O mundo e a vida têm os seus mistérios. O desdobramento destes mistérios faz parte de um campo que os humanos não tem acesso.
Bem! Bem longe dalí, mas bem longe mesmo, porém bem, bem perto dali, Deus resolveu fazer uma caminhada pela terra. Queria ver e saber de perto como anda a humanidade. Decidiu fazer esta jornada no corpo de um andarilho. Andou e andou pelos quatro cantos da terra. Sentiu fome, frio e cansaço. Solitário e exausto chegou à porta de uma igreja. Queria entrar para descansar, mas viu que ali havia opulência, gritaria, hierarquia de poder e pouca fé. Não entrou. Na porta de templos, sinagogas e mesquitas viu que ali havia muita intriga e vilania. Em todos se ouviam o coro dos anjos e também o rugir do demônio atiçando intifadas. Também não entrou. Decidiu então se afastar dalí e se tornar, bem longe, um eremita lá no Morrão da Santa Fé e no Grotão de São Tomé. Ao passar por ali viu traços de pura fé e serenidade decantadas nos corações do Caboré, da Salomé e de toda a família dos “és”. Deus viu que na quietude de suas almas repousava a serenidade para o seu repouso tão buscado. Resolveu ali se hospedar, pois sentira o cheirinho gostoso, no ar, dos “bijus da Salomé” e o rufar suave do “tambor do Caboré”. Nas suas andanças pela terra, viu Deus que nas casas que denominam de Senhor viu quatro, seis, oito dez e doze paredes revestidas de arte e ouro, colunas de mármore, balaustres, lustres de cristais e tetos abobodados, tudo em pé para sustentar as casas ditas do Senhor.
Dizem os mestres e os grandes sábios que Deus não precisa que Suas Casas tenham paredes e colunas para se sustentarem em pé. Pois, no coração humano não tem paredes nem colunas e, nem tetos para se manter em pé. Mas, é ali que Deus se deposita na serenidade do Amor, da Fé e da Caridade. É ali que Ele se hospeda com alegria e na bonança da fé.  Mantenha sempre sua casa aberta e limpa para Ele.
Bem! Voltemos, pois ao mundo do Caboré e da Salomé. A Francisquinha piorou. Seus instantes finais haviam chegados conforme já se sabia. Sua cor logo se tornou branca como a fumaça lá do alto do Grotão de São Tomé. Suas pernas e seus braços já estavam sem vida. Sua respiração já estava no final. Tudo nela se esvaia lenta e dolorosamente. Salomé pediu, então, aos seus pais e as meninas que fossem todos lá para fora, o que foi atendido de imediato. Sentaram todos em um chão de terra batida e cabisbaixo choravam. Esta é a hora mais angustiante da espécie humana. “A partida.” Alguns minutos se passaram naquele cenário silencioso e doloroso.
E, então…

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Olá! Óoouuu de casa!!! Alguém lá na porteira do cercado gritou! Todos os que estavam fora de casa, simultaneamente levantaram o olhar e… Oh! Meu Deus! Um coro de vozes, bem alto, ecoou pelo Morrão da Santa Fé. DEPRESSA!  DEPRESSA!  Tio Caboré e tia Salomé!  DEPRESSA!  DEPRESSA!
Assustados e apavorados com os gritos, Caboré e Salomé deixaram a Francisquinha só, acreditando que infelizmente ela já tivesse partido e correram esperando que não tivesse ocorrido o pior. Chegando na porta, estupefatos, depararam com a visão do Seu Gabriel, lá na porteira do cercado, com o burro de São Tomé e o tambor do Caboré. Correram todos, chorando, para abraçar o geremias e o seu Gabriel. Tanto choro! Tantos abraços!   A emoção era demais.
Aí! Alguém gritou mais alto que dantes: OLHEM!  OLHEM!  OLHEM! Todos olharam perplexos e… Lá estava a Francisquinha  em pé, na frente da porta, rosada e saudável apoiada no Cambé o cachorro cego. Correram todos para ela. Chorando e chorando.
Não faltaram abraços para a Francisquinha em pé ao lado do Cambé. Não faltaram abraços para o burro de São Tomé, o seu Gabriel e, até para o tambor do Caboré. Outra vez:  Se existisse alguém, não perto do Céu, mas dentro Dele, naquela hora, este alguém era a Salomé, o Caboré, toda a família dos “és” e, até o seu Gabriel, o Geremias e o Cambé. Um momento sublime que só Deus pode proporcionar. Não faltaram beijos e abraços para os que deveriam ser beijados e abraçados.

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Passado aquele estado de exultação, Caboré perguntou ao seu Gabriel: O que aconteceu?
O seu Gabriel lhes contou que meses atrás, ao passar em um trecho da estrada desativada, perto do motel do seu Xexéu, o burro estava no meio da rua e se misturou à tropa de animais que eu estava conduzindo. Ao chegar ao sítio que eu tenho lá no final do vale, notei aquele burro agitado entre os outros animais e fui vê-lo de perto. Coitado! Tinha mais carrapatos da cabeça aos pés, que gente em pé para ver o Papa na Praça da Sé. Cuidei dele sem saber a quem pertencia. Tempos depois, eu soube que era seu e, vim devolvê-lo. Só não imaginava da situação a que vocês tinham chegado. Quanto ao tambor, umas duas semanas depois da enxurrada eu o encontrei preso aos galhos de uma árvore lá no fundo do vale por onde passo freqüentemente. Aqui estão o seu burro que parece que fez tanta falta na sua vida e o seu tambor. Sei agora que os dois são valiosos para o seu ganha pão. Estou muito feliz em trazê-los de volta. O Caboré e a Salomé agradeceram ao seu Gabriel.
Esta é a história verdadeira que aconteceu com o burro de São Tomé. Não aquela que o seu Xexéu contou a gente lá do vale e do sopé do Morrão da Santa Fé.
Seu Gabriel sensibilizado pelo drama de toda a família decidiu apadrinhar a Francisquinha que, no mesmo dia foi levada ao médico da cidade mais próxima onde, dias depois de vários exames, ficou constatado que ela estava completamente curada. Foi uma alegria enorme. Desde então o seu Gabriel mesmo morando lá no fundo do vale passou a visitar a casa do Caboré e da Salomé com mais freqüência, passando a ser o melhor amigo de todos. Seu Gabriel não tinha família e adotou a família da Salomé e do Caboré como sendo a sua.
Poucos dias depois, lá no alto do escarpado Grotão de São Tomé, a fumacinha branca anunciava que tudo estava sendo normalizado. Toda gente do vale e do Sopé do Morrão da Santa Fé viram com ansiedade que logo estaria de volta, o burro de São Tomé, o tambor do Caboré e o bijú da Salomé.
E Deus? Bem! Deus continuou hospedado no coração de toda a família dos “és” e, agora também no coração do seu Gabriel. Gostou tanto do cheirinho do bijú da Salomé que decidiu ficar por lá no Morrão da Santa Fé e no Grotão de São Tomé por muito e muito tempo.
Pi-Nath

 

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Pi-Nath

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