A borboleta e o supermercado

A borboleta e o supermercado

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Quando nos envolvemos em um acontecimento ou quando presenciamos alguém envolvido em um outro, sempre os elementos da ocorrência se situam no âmbito do comum, do corriqueiro e daquilo que conhecemos no nosso dia a dia. Muito raramente algo novo, diferente do que vemos e temos conhecimento se interpõe no desenrolar de um determinado evento, nesse momento, quando isto acontece, o espanto é enorme assim como o ato de exclamação também o é.
A narrativa de um destes eventos começa exatamente pelo fim, pois é um ocorrido daqueles que se encaixa no inusitado pelo fato de ter ocorrido em um local sem que ninguém pudesse imaginar que acontecesse. A exclamação, a beleza e o encantamento deste evento ocorreram no fim, mas a surpresa, o espanto e o impacto   estiveram no começo como vamos ver a seguir.
Numa tarde quente de verão, eu fui a um supermercado muito conhecido perto do bairro onde moro, pois é lá que procuro fazer as minhas compras do dia a dia.
Havia muita gente transitando no seu interior e, eu apressado fiz uma compra na padaria do local, procurando sair dali o mais rápido possível, pois fazia muito calor no ambiente, fato que atestava as duas grandes portas do mesmo estarem abertas por uma razão de manutenção ou outra. Os caixas para pagamentos estavam todos abertos e com grandes filas. Fiquei em uma fila preferencial num caixa frente a uma das portas abertas na esperança de ser logo atendido. A fila também era grande.
 Nesta hora, ouvi uma voz de criança gritando alto chamando a atenção de quem estava ali por perto. Gritava a criança: Mãe! Mãe! Veja mãe! Que borboleta grande e bonita! Uaaaall!  Uaaaall!  Uaaaall! 
Todos os que estavam nas filas dos caixas próximas a uma das saídas também viram a borboleta que aproveitou a abertura da porta e entrou deliberadamente voando em ziguezague no supermercado. Voou e voou ali sobre as pessoas das filas próximas arrancando exclamações dos presentes. Parecia está procurando por alguém ali dentro. Voou sobre todas as outras pessoas que  ali transitavam e depois chegou mais perto e, voou em volta das pessoas da fila em que eu estava e, como num passe de mágica pousou suavemente no meu ombro para espanto e exclamação de todos. Quem tinha celular ali na hora pode registrar o ocorrido. Para não espantar e não machucar a borboleta procurei mexer levemente com o ombro no intuito de que ela voltasse a voar. Esforço inútil, pois ela não queria sair do meu ombro de jeito nenhum. Todo mundo ficou olhando para mim o que me deixou acabrunhado e numa situação que eu nunca pensei que chegasse a acontecer comigo. Fiquei constrangido por uns cinco minutos e a borboleta não arredava pé do meu ombro. A cor do meu rosto mudou para o roxo, amarelo, vermelho, azul e verde da vergonha que eu estava sentindo ao ficar na  mira de muitas pessoas imaginando um montão de coisas, talvez esquisitas sobre mim. Não movi mais  o meu ombro no sentido de tirar a borboleta. Quando finalmente cheguei no caixa para o atendimento da minha vez, a funcionária do caixa que me atendeu me disse que eu merecia um desconto na compra pelo que eu estava passando. Levei como brincadeira, pois naquele instante eu já estava bem mais calmo e descontraído diante de todo mundo ali. Feito o pagamento pela compra, dirigi-me até a porta de saída com a borboleta no ombro e todo mundo me acompanhando pelo olhar. Fora do supermercado me senti mais aliviado e cheguei até o meu carro. Ao abrir a porta, a borboleta deixou o meu ombro e deu duas voltas por sobre o mesmo e voou em direção a umas árvores ali perto. Voltei o meu olhar para a porta do supermercado e notei a presença de várias pessoas observando aquele final misterioso. Liguei o carro e fui embora. Enquanto estava lá dentro do supermercado o meu raciocínio ficou obscurecido pelo que estava acontecendo e, não consegui entender, de fato, como aquilo poderia estar ocorrendo.  Já dentro do veículo em direção a minha casa, o nevoeiro na minha mente se dissipou e eu pude ter a suposição do acontecido, pois parecia ser o desenrolar de um fato que acontecera três semanas atrás o qual guardava surpresa, impacto  e espanto. 
Bem! Tudo começa quando uma avenida termina ao encontro de uma outra. No local há um farol e na esquina uma Escola do Senai. Ao final da tarde quando terminam as aulas da escola a calçada da avenida que termina no farol fica cheia dos estudantes que saem da escola e vão embora. Nesta hora estou eu passando, na calçada, no meio dos estudantes quando de repente olho para baixo e vejo uma lagarta  grande esverdeada passando apressada na calçada na minha frente e entre os pés dos inúmeros estudantes que por  ali passavam.
Instintivamente a minha primeira reação foi segurar os estudantes para que não pisassem  na lagarta. Para tanto retirei de dentro de uma agenda um envelope branco e me abaixei fazendo a lagarta ficar em cima do envelope. Feito isto, peguei o envelope com a lagarta e a devolvi para o gramado da escola de onde eu supunha ter vindo. Em seguida continuei com a minha trajetória que era atravessar o farol e ir até o supermercado ali próximo. Passados mais ou menos dez minutos, de volta do mercado, passei pelo mesmo lugar de antes, olhei para o gramado, para a calçada e não vi a lagarta. Voltei o meu olhar para o meio da avenida e…  Lá estava a lagarta tentando  atravessar a avenida à frente de uma fila enorme de carros parados, esperando o sinal abrir para passarem. Neste instante o meu instinto foi mais rápido e saltei no meio da avenida no instante em que o sinal  ficou verde para os carros. Levantei as mãos e pedi para que todos parassem, o que foi feito numa ação, talvez providencial. Peguei o mesmo envelope de antes e retirei dali a lagarta que tentava atravessar apressada a avenida. Nesta hora foi como se o tempo tivesse dado uma pausa e não houve nenhum problema. Ninguém que estava ali parado ao sinal aberto me chingou ou fez algum sinal obsceno com as mãos. Houve um silêncio entre todos e eu consegui retirar a lagarta são e salvo de um esmagamento inevitável.
Ao chegar na calçada do outro lado da avenida, coloquei a lagarta em um tronco de uma árvore próxima e, ela subiu no mesmo me deixando com a impressão de que era exatamente aquilo que ela queria fazer desde o início da aventura fatídica. Queria estar em uma área ampla  e verdejante para cumprir as outras etapas de sua vida. Enfim, realizado esta proeza maluca orientei o meu pensamento em direção a todos aqueles que estavam no trânsito e, pedi mentalmente desculpa a todos pelo transtorno que causei. Consegui salvar, conscientemente, uma vida por mais insignificante que fosse para muitos, mesmo sendo esta de um pequeno animal. Agi por um instinto consciente de que a vida de quem quer que seja ou o que seja, seja respeitada e preservada mesmo que para isto tenhamos que por em risco a nossa própria vida. Coloco-me no lugar de quem estava dentro dos veículos, com pressa, e foi pacientemente educado comigo por alguns segundos ou minutos. Este evento, certamente, produziu surpresa, impacto e espanto a todos os que o presenciaram.
Bem! Está faltando o elo que liga o evento do supermercado ao evento da lagarta e o transtorno no trânsito. Isto mesmo! A crisálida! A metamorfose da lagarta se transformando em borboleta. Um evento extraordinariamente belo e significativo na vida de uma criatura que existe aos milhões em toda a terra. 

Nós nos julgamos, às vezes, sabedores de muita coisa da Natureza. Ledo engano. Certamente não sabemos nada, nada mesmo. Pois, o gesto da borboleta ao pousar no meu ombro no supermercado foi talvez, uma forma de externar gratidão. Mesmo que a borboleta que causou o encantamento e a exclamação no supermercado não seja a metamorfose da lagarta salva no trânsito. Talvez uma outra, no seu lugar, tomou a iniciativa de realizar o ato reverencial de agradecimento pela vida. Não sei o que aconteceu, mas se foi exatamente isto o que ocorreu, inclino-me e aceito humildemente que a Natureza está repleta de elementos sutis que transitam entre nós humanos sem que tenhamos a menor noção de sua grandeza e existência.
Sinto-me privilegiado em ter sido o protagonista deste evento misterioso. Agradeço às Forças Superiores por ter participado desta façanha espetacular que produziu “Encanto, Exclamação, Surpresa e Espanto simultaneamente”.  
Pi-Nath

Considerações:

Quando a mente humana não é dotada de expressividade e indagações,  a única manifestação que lhe sobra frente a um evento deste é a exclamação: Que beleza! que lindo! E só. A  inação,  a sornice  mental e o cabresto  são os elementos que lhe inundam a tudo. Que pena!
Quando o senso de indagação e a curiosidade lhes sobram e, são fortes, a pergunta é: Como é possível esta beleza??? Como o  desenho desta borboleta foi feito, projetado e executado de forma tão estética, simetricamente artística e perfeita não lhe cabendo um adjetivo por mais elegante e elevado possível???
É notório e espetacularmente convincente que para tamanha beleza só é possível com a existência de Algo Elevado  no comando de tudo isto. 
Pi-Nath
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