A prisão, o pássaro branco e o homem

A prisão, o pássaro branco e o homem

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Eu estava de passagem pela periferia de uma cidade do interior que tem alguns presídios bem conhecidos quando de repente o meu carro apresentou um defeito parando de funcionar lentamente. Não era por falta de combustível, mas por um problema elétrico que não pude identificar na hora. Eu já tinha colocado o veículo fora da estrada quando percebi que o mesmo ia parar de vez. Saí do carro e liguei para um mecânico conhecido meu na cidade pedindo que providenciasse um guincho para recolher o veículo até sua oficina antes do fim do dia. Enquanto aguardava o mecânico e o guincho, abriguei-me debaixo da cobertura de um ponto de ônibus que estava próximo, pois o sol estava muito quente naquela hora. Duas mulheres estavam ali sentadas conversando. Pareciam esperar pelo ônibus que por lá passava, ou alguém do presídio bem à frente. Cumprimentei-as com muito respeito e me sentei do outro lado do banco. Não demorou muito, quando o portão do presídio se abriu e saiu um senhor com duas sacolas nas mãos. Parecia ser alguém que acabara de cumprir uma pena na prisão e que fora libertado naquele instante. As duas senhoras se levantaram e foram ao encontro do homem. Houve um abraço entre as senhoras e o moço e todos retornaram para o ponto do ônibus. Enquanto voltavam para o abrigo do ônibus deu para perceber que uma discussão entre eles havia se iniciado. Era uma espécie de repreensão que no início parecia calma, mas logo ficou acirrada. Deu para perceber que o homem e  as duas senhoras eram evangélicos. Todos falavam de suas respectivas igrejas. A discussão envolvia passagens bíblicas e estava bem acalorada. Nesse mesmo instante o ônibus se aproximou, parando ao sinal das duas senhoras e, todos entraram nele e foram embora. Fiquei sozinho ali, tentando engendrar os meus pensamentos que estavam turvos e embaraçados. Repentinamente um pássaro branco sobrevoou por três vezes o ponto do ônibus e se dirigiu à construção do presídio, desaparecendo alto e lentamente num céu azul cor de anil. Meu olhar o acompanhou até desaparecer completamente. Isso me chamou à atenção, pois a ação do pássaro não me pareceu  normal. Minutos depois sai de um roçado ali perto, um senhor com um saco parecendo conter espigas de milho verde,   chegando em seguida ao ponto de ônibus. Tive a impressão que ele presenciou a discussão de poucos minutos atrás. Deu-me boa tarde e se sentou no banco do ponto de ônibus. Ficamos em silêncio por alguns instantes quando então, de repente disse: Ah! Como é maravilhosa a liberdade! Concordei acrescentando: A liberdade é um dos bens imateriais que mais deveríamos valorizar.
Não demorou muito, chega um carro, abre-se a porta e ele entra. O veículo vai embora e eu fico sozinho com meus pensamentos ainda desordenados.
Enquanto aguardo o socorro mecânico, meus pensamentos vão se ajustando e, fico animado e ansioso para escrever um texto contendo uma reflexão profunda sobre o que acabara de presenciar. 
Enfim, chega o socorro sem o guincho, pois o carro do mecânico que é um velho conhecido meu está aparelhado para rebocar veículos pequenos como o meu. O conserto do veículo foi ali mesmo no local, pois se tratava apenas de um cabo que se desconectou, fazendo-o parar abruptamente. Terminado o conserto, continuei com a minha viagem, apressando-me para chegar em casa e escrever este texto. 

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Bem! As palavras foram fluindo mentalmente sem nenhuma dificuldade e, eis a minha reflexão:
Antes do moço deixar a cadeia, ele fora um presidiário, não importando qual tenha sido o seu crime. O fato de ter ficado preso por algum delito que cometera, colocou-o em uma situação em que somente ele é capaz de descrever com detalhes os momentos que passara. Não há, por parte deste, o conhecimento do quão profundo são os reflexos envolvidos em todas as passagens dos seus atos. Somente o lado superficial lhe acompanhará pelo resto da vida. A reflexão deste fato, entretanto, só poderia ser desnudada por alguém de fora que possa ter o discernimento do que são as muitas prisões da vida, vistas sob o ângulo da espiritualidade. Não há outra forma de compreendê-las fora do contexto espiritual. As ciências do antropocentrismo são inconclusivas para nos dar uma resposta satisfatória e confortante. Sabemos como são os dias de quem está preso. As repetições do dia a dia com o passar dos tempos  acabam se tornando um martírio insuportável onde os cenários continuam sendo sempre os mesmos: As grades, as quatro paredes da cela, o cenário reprovador em todos os lados, as companhias muitas das quais repletas de rebeldias, os professores do crime e, uma extenuante degradação moral e espiritual. Todos os que ali estão cultivam, desesperadamente, uma vontade de deixar a prisão, fugir ou cumprir a pena. Ninguém, quase ninguém mesmo, percebe um fato altamente relevante correndo paralelamente ao encarceramento: O teto da noite quer seja de grades ou concreto não impede que os pensamentos dos presos vagueiem por horizontes sombrios, criando cenários de outros tipos variados de prisões: As prisões mentais das quais  passam a carregá-las pelo resto da vida.
Do ponto do ônibus, ao ver aquele moço deixando a prisão com as suas duas sacolas com os seus pertences, mesmo à distância, eu presenciei um ar saudável, num suspiro longo de liberdade entrar profundamente pelas suas narinas. “Enfim livre!” Deve ter pensado. Momentaneamente aquele gesto de contentamento foi apenas por ter deixado para trás aquele presídio sufocante.
Eu sei!  Muito provavelmente ele não se sabe e não se deu conta de que deixou apenas a prisão física. Ele está deixando para trás tão somente o presídio, mas está carregando em sua mente um montão de outras prisões muito mais torturantes e sufocantes do que a prisão física. Estas prisões não são por frutos de delitos, mas por conceitos, hábitos, influências pesadas e, sobretudo por APEGOS. Tais APEGOS característicos de sua própria vida antes da prisão e principalmente por aqueles adquiridos no encarceramento. Ele está preso na alma, agora, pela prisão do fracasso, das incertezas pelo retorno à sociedade, pelo inconformismo. Preso e atrelado à revolta, ao ódio, a inveja dos que são vitoriosos fora das prisões e, ele um ex-presidiário derrotado. Preso à ideia de que não será bem visto pelos seus familiares, etc. etc. São tantas as prisões que carregará consigo, simultaneamente, que ficaria cansativo descrevê-las todas. Quando se encontrou com seus familiares fora do presídio foi logo ejaculando insatisfações diante de repreensões e isto é um tipo de prisão. Este ex-presidiário perdeu, com a sua prisão, o rumo dos caminhos que poderia lhe auferir uma porção de  belezas que a vida poderia lhe oferecer.

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O pássaro branco.  Sim!  O pássaro branco sobrevoando o ponto do ônibus por três vezes seguidas.
Eu percebi naquele instante um momento de muita grandeza só perceptível quando estamos em sintonia com o universo das grandes belezas. Não há, no meio de tantas criaturas vivas neste planeta, uma que transmita mais encantamento em termos de liberdade do que as aves. Estas são as senhoras dos ares, da liberdade plena. Nós como seres humanos não podemos imaginar a incrível sensação de voar livremente pelos céus. Só podemos imaginar, nada mais. Usufruir deste momento glorioso é para poucos. Não é como estar voando em um avião. É muito diferente.
O sobrevoo do pássaro branco sobre o ponto do ônibus, onde somente eu percebi, queria transmitir alguma coisa. Levei alguns minutos para perceber, pois me pareceu um tanto inusitado  exibir um voo tão bem desenhado como aquele. “Nascemos todos como espíritos livres”.  No Cerne da Fonte de onde todos nós proviemos, a liberdade era total. O branco da pureza era total. Não havia limites impostos pelo mundo celestial que impedisse o gozo da liberdade. Nascemos com o propósito de perder este transcendental benefício para, então, quando o reconquistarmos, de novo, possamos apreciá-lo adequadamente e eternamente.
Não soubemos como aproveitar enormemente o benefício da liberdade no início da nossa jornada na terra. Quando impusemos limites para a liberdade dos outros através da força, de regras, estatutos e leis, impondo limites à vida, perdemos a nossa própria liberdade. Por uma razão que ainda não conhecemos é que tivemos que rastejar pelo chão como os outros animais. Voar livremente sem o uso de artifícios não é para nós humanos, se assim o fosse, teríamos nascido com asas. Voar de forma natural é tão somente para as aves. Estamos presos ao chão. Mesmo que exaltemos com a mão no peito que somos livres, estamos de fato, presos ao solo, numa espécie de prisão. Continuamos presos, mesmo livre de grades. Há, entretanto, inúmeras outras  prisões que carregamos ao longo da nossa jornada. São prisões inseridas em nossas vidas de acordo com as escolhas de vida que adotamos. 

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O homem! Ah! O homem! Quando do ponto de ônibus vi aquela criatura se agachando com dificuldades sob o arame farpado para não ter as suas roupas rasgadas pelas flertas de aço, uma porção de pensamentos desordenados e inconsequentes passou pela minha mente. Imaginei delitos.  Isso mesmo!  delitos, mesmo vendo ali um dos  mais simples. Mas! Aquele pós-cumprimento poderia significar algo mais substancial do que um suposto delito simples de roubo: “Ah! Como é maravilhosa a liberdade”. Disse o homem com muita clareza. Aquela foi uma expressão de quem conhece mais sobre o mundo do que o normal das pessoas e que denotava a sabedoria de pessoas experientes. Não se pode dizer isto diante da possibilidade de ser penalizado pela perda da liberdade mesmo por um delito simples.
A liberdade da qual presumivelmente usufruímos sem o conhecimento de penas que poderiam nos ser impostas por delitos é valiosa para o convívio entre os elos que formam as sociedades. Temos um valor considerável por aqueles que apreciam bons hábitos familiares, sociais, culturais e se abstém de se desviar do rumo dos mesmos.
Como um simples escritor sem o reconhecimento no meio dos que escrevem para todos os gostos não pude me furtar de cumprir um ritual de investigação mesmo que tenha sido por uma causa muito simples. 
Para concluir este meu escrito com sentido reflexivo, completo, coerente e adocicado, que me trouxe uma satisfação e alargou mais ainda a minha percepção do mundo, não poderia permanecer na dúvida quanto ao comportamento do homem com o saco de milho verde  quando estive no ponto do ônibus e o vi entrar em um carro velho, bem simples. Não custaria nada fazer uma simples indagação a alguém ali por perto.
Quando deixei o lugar após o conserto do meu carro, passei por algumas pessoas que moravam ali perto e perguntei sobre o homem em questão. Disseram-me que se tratava de uma pessoa muito boa e que morava ali por perto. Acrescentaram, ainda, de que era o proprietário do terreno cultivado com a plantação de milho em frente ao presídio. Por ocasião da safra do milho verde tinha o hábito de fazer uma colheita e distribuí-la pelas pessoas simples do bairro. Complementaram com a alegação de que era um homem de bem e, que pelo fato de ter entrado naquele carro simples não o classificava como uma pessoa qualquer. Pelo contrário, era uma pessoa de posses e que poderia ter um belo carro se assim o quisesse.
Estava desfeita a minha dúvida. Foi um alívio bem vindo que se somou ao que eu pretendia usar de útil para finalizar o escrito. Não se tratava de uma pessoa que cometera um delito mesmo simples roubando um saco de milho verde para amenizar a fome de várias pessoas. A cena tinha um significado que eu não poderia deixar passar despercebido. Serviu para acender, de imediato, uma lembrança que tive de um fato histórico muito relevante e que envolve a questão de status.
Lembrei-me de uma passagem bíblica muito significativa para concluir este trabalho: “O Domingo de Ramos quando Jesus entrou em Jerusalém e foi aclamado pelo povo”. A lembrança deste evento bíblico não pode ser comparada com o cenário descrito acima. A ação do homem serviu apenas como um lembrete do que envolve o que denominamos distinção.
“Na categoria das montarias que conferem status aos incautos, Jesus escolheu a última das mais simples, aquela que ninguém escolheria para se autoproclamar: Um jumento! Isso mesmo! Um jumento. Jesus escolheu um asno como montaria para entrar em Jerusalém, não porque fosse um Homem sem posses materiais. Era um Rei! O maior de todos! Poderia ter entrado na cidade montado em um fogoso e belo cavalo branco alado, rodeado de nuvens brancas em rodeio caídas em cascatas dos céus, cercado de anjos também montados em belos cavalos, todos envolvidos no fulgor e no  poder  da Luz  Celestial. Mas! Era um verdadeiro Rei. O maior dos homens. Livre dos apegos e prisões terrenas, distante dos status que tanto seduzem os homens tolos. Isso mesmo! Um jumento. Por essa razão escolheu este animal como montaria para entrar em Jerusalém e ser aclamado pelo povo. Deu um belo exemplo do quanto somos estultos ao valorizarmos sem reflexão, a questão das distinções. Esse é o meu Eterno Ídolo. O meu Conselheiro. O maior de todos os homens”.
Termino este simples escrito enaltecendo esta Figura Impar.
Não sou ninguém em especial. Sou apenas uma pessoa simples que esteve em um momento único ao presenciar um cenário com uma prisão, um pássaro branco e o homem que, juntos me deram inspiração para escrever este relato cheio de reflexões. Era um dia de céu claro com um azul incrível. Um belo dia. 
Pi-Nath

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