Memórias de um velho banco de madeira – 2º Capítulo – O anjo, o desvairado e o oásis

Memórias de um velho banco de madeira.

(Clique na faixa à direita para regular o som)

De nada adianta varrer para debaixo do tapete os escombros feios e dolorosos da existência humana. É necessário saber conviver com eles, mesmo que a contra gosto, pois fazem parte do roteiro que nos é imposto por Deus para a evolução.
Deixe à vista, pois, aquelas belezas e grandezas que deixam os olhos lagrimejantes e enche os corações de fé. É esta parte dos humanos que ecoa e ressoa longinquamente pelos confins do universo.
O ser humano, às vezes, é escolhido no roteiro da vida a desempenhar papéis muito difíceis. Alguns desses papéis são dolorosos e geralmente não prazerosos. São regidos por uma Ordem Superior e devem ser aceitos com resignação.
Neste velho banco de madeira, sentou aqui pela primeira vez em um dia nublado , um senhor com um ar de muita doçura  e um aspecto compassivo bem visível. Deixou um leque de memórias sofridas e uma força de superação tremenda.
As memórias de melhor conteúdo, aquelas que nos remetem a reflexões serão as que comporão este e todas as demais narrativas.
Neste capítulo vamos experimentar uma belíssima ação só possível de ser realizada por alguém corajoso e muito especial.
É uma dessas criaturas humanas que dão um equilíbrio essencial à dinâmica do mundo. Só pode ter sido enviado do Alto para uma tarefa tão linda. Vejamos então como começa!

                     Segundo Capítulo – O anjo, o desvairado e o Oasis.

(Clique na seta à esquerda para ouvir o fundo e na faixa à direita para regular o som)

O vento sibilava imperceptível no topo das altas dunas das areias daquele escaldante deserto do oeste do Saara.
Já era um fim de tarde e os derradeiros raios de sol dançavam ao movimento suave dos ventos sobre as montanhas andantes. Naquelas areias perdidas na imensidão de horizontes infindáveis, há quem diga que ali é o calvário das almas que sempre acreditaram no nada.

Caravanas de camelos, nômades e mascateiros passavam ao lado daquele Oasis que causava arrepios e temores. Havia uma recomendação clara a todos aos que ali buscavam guarida. Aos não cumpridores da gratidão do saciar, havia tão somente o castigo final de não mais poder saciar em outro Oasis buscado.
Figuras perceptíveis apenas na mente daquelas almas vagantes que por ali se perdiam, desfilavam e buliam na cabeleira das dunas desfiguradas no início da noite.
O frio do anoitecer já afetava a monotonia quente do lugar perdido. O Oasis, para os impávidos, permanecia intocável sem candidato ao ato da ousadia e do acaso.
Mas… Espere!  Lá, lá no meio do desfile desafinado de sombras e areias flutuantes, algo tem forma mais afinada com a crença das miragens em corpo e alma.
Surge com aquele aspecto de fantasma mísero, um corpo desajustado do normal que, entre a caravana e os viajantes, com sua voz rouca quase exaurida pela debilidade pedia socorro. Era um grito que se perdia inútil pelos confins daquele deserto perdido. Socorro!  Socorro!  Socorro!  Na ânsia de achar alívio, ninguém lhe via, ninguém lhe acudia. Todos lhe evitavam como se evita um leão insano e esfaimado. Buscava na sua ânsia de encontrar achego para o seu flagelo, uma migalha do saciar, antes do Oasis por todos evitados.

(Clique na seta à esquerda para ouvir o fundo e na faixa  à direita para regular o som)

Não sei se fantasma era, aquele desvairado, ou as caravanas passantes os eram. Não sendo atendido por aqueles que dele fugiam, com o seu mau jeito de ser desaprumado, estende suas mãos com dedos em formato quase descarnados, às folhas espaças da tamareira do Oasis que se curvava para saudá-lo.
O impávido desvairado se atira sem cerimônia sobre as tâmaras ali depositadas como iguaria sem igual. Parte do seu corpo em estado fractal e imoral se deposita sobre o saciar de sua fome insaciável. A outra metade mergulhada sem lisura no frescor líquido, desarrumando o reflexo memorável do céu que se mostrava irredutível em terras de desertos.
O lusco fusco em um estelar distante testemunhara tão ousada aventura com final profetizado.
Saciada sua fome e sua sede, o desvairado não atenta para o aviso que lhe avisa: “Agradeça à Alah, a graça do seu saciar e, parta em Paz”.
Levantou-se o desvairado já fartado, sacudiu as areias em suas vestes desarrumadas e sem o senso da sagrada gratidão partiu impávido sem expressar nenhuma graça. Saiu carregando seu vestuário quase em trapos com as sandálias em frangalhos.
“Oh!  Ingrato airado!” Murmurou desacoroçoado o sagrado santuário no seu refinado estado.
“Faço-te uma exceção oh infeliz peregrino. Oh criatura das profundezas das desigualdades. Das minhas fontes mais cristalinas, águas mais límpida brotarão em benefício de outros que virão. Compaixão se juntará ao saciar deste sagrado Oasis.” Partiu sem destino traçado, o desvairado descurado.
E o anjo ? Onde está o anjo ? Querem saber ?
Bem!  O anjo sentou neste velho banco de madeira em uma manhã nublada e deixou  impresso nele esta misteriosa e maravilhosa narrativa. Vamos encontrar o anjo! Ele é raro! Precisamos achá-lo, cumprimentá-lo e até abraçá-lo!

(Clique na seta à esquerda para ouvir o fundo e na faixa  à direita para regular o som)

Estamos agora, muito longe do deserto. Aqui é tudo Oasis em toda parte. As únicas areias daqui são as areias das praias sempre lotadas. As dunas daqui são branca-amarronzadas e, muitas outras verdes cheias de vidas amedrontadas.
É uma noite fria de julho e esta rua do meu bairro tem gente daqui e de muitos outros bairros. Em uma parte dela está quase vazia a esta hora. Próximo a ela, há um supermercado que busco para repor as necessidades alimentícias quase diárias da minha família. Atravesso o farol e… Lá está um reboliço…
Apenas eu, solitário, ao atravessar a rua naquele horário não esperava encontrar ali nenhuma arruaça. A minha direita, na rua, vários veículos aguardavam o sinal abrir para passarem. Nesta hora começa o alvoroço: Um travesti tresloucado abordava os veículos ali parados, criando uma situação embaraçosa para todos os que presenciavam a cena.  Os ocupantes dos veículos xingavam e arremessavam objetos em direção àquela criatura considerada por eles como horrorosa. Enquanto isso, outros fechavam os vidros dos carros num gesto claro de repúdio.
Era uma situação por demais embaraçosa. Aquele travesti implorava por ajuda, alegando estar sem se alimentar por quase uma semana. Seu aspecto próximo a cadavérico atestava tal alegação.
Ninguém lhe atendia. Aquela figura bizarra para os padrões humanos ditos normais, em desespero gritava: Moço!  Estou morrendo!  Faz dias que não consigo recursos para me alimentar. Ajudem-me! Socorro! Socorro! Socorro!
Sem que ninguém lhe atendesse aos apelos, o sinal de trânsito se abre e, os motoristas partem em disparada como numa largada de fórmula 1. Só sobraram naquela cena, eu em pé na calçada pasmado e, o travesti alucinado aos gritos no meio da pista. Durou pouco, pois a rua foi ficando, novamente, cheia de veículos passando apressados ao sinal aberto para eles. Ziguezagueavam para não atropelar o travesti. Gritos e xingamento ecoavam ali naquele local. Para mim, não sei se o fantasma era, naquela hora, o travesti ou se os eram, os veículos e seus ocupantes.
Paralisado e surpreso, assisti como testemunha única aquele espetáculo dantesco.
Naquele instante, toda uma legião de anjos bons que há em cada um dos seres humanos se manifestou em mim ali em atendimento a uma provável Ordem Superior.
Profundamente penalizado com aquela rejeitada e infeliz criatura gritei alto: Ei! Você!  Venha aqui! Aquela criatura até então sem receber atenção de ninguém, prontamente atendeu àquele chamado esperançoso e se dirigiu até a calçada onde eu estava. Aquele momento foi decisivo para não ser atropelada.
Vociferou o desvairado…  Respondi-lhe: Calma! Calma! Fique aqui sentado na calçada e não saia daqui até eu voltar, pois vou buscar comida para você. Aquelas palavras ecoaram como um elixir para o travesti. Ele ficou ali sentado, impaciente com os olhos cheios de lágrimas. Era um desvirtuado sem dúvida, mas um ser humano perdido e sobretudo profundamente carente.
Sua indumentária de sobrevivência, aquela que lhe cobria o corpo naquela noite deixava claro o seu estado de indigência. E, que se tratava de um desarranjo infeliz da natureza. Eu não poderia imaginar que tamanhos pecados para tamanha  provação. Seus trajes e seu calçado eram o que de pior poderia existir para cobrir seu corpo e proteger os seus pés naquela noite fria.
Ali estava alguém similar a um animal tosco, insano e faminto. Toda a revolta e suas frustrações estavam ali contidas tão somente em um breve instante de espera. Apenas o gesto daquele bom samaritano segurava a explosão de sua raiva. Pobre criatura!
Enquanto isso, apressado entrei no supermercado e fui direto à área de alimentação. Lá escolhi uma bandeja farta com variedades em carnes, legumes e verduras. Pedi à atendente para esquentar no micro-ondas e acrescentei um refrigerante de 600 ml. Fui direto até o caixa rápido e paguei apressado. Sai em direção ao desvairado e, lá chegando com a comida, ouvi uma exclamação alta: Oh! Oh! Aquela criatura debruçou-se sobre a bandeja de alimentos variados mesmo sentado ali na calçada. Nunca vi alguém tão esfomeado e com tanta pressa em saciar-se. Parecia um porco faminto e sedento ao  devorar aquele alimento com tanta voracidade.

(Clique na seta à esquerda para ouvir o fundo e na faixa  à direita para regular o som)

Aguardei por alguns instantes até que a situação se acalmasse. As minhas atitudes e o meu raciocínio lúcido estavam freados, frente àquele cenário desatinado. Terminado o saciar, o desvairado se levanta calmamente  e sem sequer olhar para o seu benfeitor partiu caminhando ereto, sóbrio  e mais equilibrado na calçada. Desapareceu aos poucos diante dos meus olhos sob a densa neblina silenciosa que começava a envolver tudo naquela noite fria e singular.
Tocado com um sentimento repentino de compaixão consegui equilibrar o emocional o suficiente para me lembrar de Madre Teresa de Calcutá, quando dizia ao abordar os pobres nas ruas sujas de Calcutá: “Todos somos irmãos e iguais”.
Reuni o meu potencial com um certo aperto no peito e fiz uma prece: 
Pi-Nath
Oh! Senhor! Deste-me tantos tesouros!
Retira de mim o aconchego de um lar sereno e, passa-o para esta criatura desamparada.
Retira de mim o alimento que sacia a minha fome e sede e, passa-os a este teu filho esquecido.
Retira de mim as vestimentas que me cobre dia e noite e, passa-as a este desprotegido.
Retira de mim a fé e a esperança que me inundam o tempo todo e, passa-as a este descrente.
Retira de mim a sanidade que me faz equilibrado, responsável e compassivo e, passa-a a este desajustado.
Se retirardes de mim, tudo o que me concedestes e me deixares apenas com uma fagulha de sanidade, onde a ti eu possa dirigir-me quando o perigo me encontrar, eu terei percebido, Oh Senhor, que não terei perdido nada.
Nesta hora, a ovelha desgarrada já tinha partido. Estava longe e, certamente mais confortada. Mas perdida sem destino no deserto da sua insanidade.
Voltei para o meu lar com os olhos ungidos e, lá chegando, percebi que as minhas necessidades familiar daquela noite não foram atendidas. Fui escolhido naquela noite para cumprir uma outra necessidade bem mais urgente.
Este é o anjo que não esteve no deserto. Esteve aqui na cidade. Sendo ao mesmo tempo, o Anjo e o Oasis.

Pi-Nath

Contact for queries – Pi-Nath

Emails: kahshikahshilima@gmail.com

              kahshikahshilima@yahoo.com.br

              Jomeli27@yahoo.com.br

              support@pinathcommunity.org    

Caro(a) amigo(a) se você apreciou o texto que acabou de ler, divulgue entre os seus amigos, familiares e outros, pois em algum lugar alguém vai agradecer muito.
Este é um site de ajuda que tem beneficiado milhares e milhares de pessoas em todo o mundo. Muita gente tem se sentido muito bem após ler alguns dos conteúdos do mesmo. É um site que deu muito trabalho para ser feito, mesmo sendo o seu criador, um escritor anônimo. É uma raridade na Web. Um site caro para ser mantido online e, se você quiser nos ajudar faça uma doação.
Você amigo(a) tem liberdade para fazer comentários, mas por favor não use esta plataforma universal para fazer marketing comercial, muito menos divulgação de conteúdos sexuais. Respeite este trabalho apreciado por muitas pessoas.
Dear friend If you have appreciated the text you just read, spread among your friends, family and others, because somewhere someone will thank you very much.
This is a help site that has benefited thousands and thousands of people all over the world. Many people have felt very well after reading some of the contents of it. It is a site that has given much work to be done, even being its creator, an anonymous writer. It’s a rarity on the Web. An expensive website to be kept online and, if you want to help us, click the heart above and make a donation.
You friend is free to make comments, but please do not use this universal platform to do commercial marketing, much less disclosure of sexual content. Respect this work appreciated by many people.
Pi-Nath

Direito Autoral protegido pela Lei 9.610/1998 –  Material literário da ONG: Pi-Nath Community.org usado como suporte psicológico a pessoas em tratamento contra o câncer.

Faça um comentário abaixo