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Descubra a pérola na concha

1ª Concha 

O cão que contemplava a lua

O brilho dourado da tarde inundava de ponta a ponta as colinas e os campos enodoados e secos da fazenda dos Andradas. Os filetes da luz dourada penetravam os cantos que ainda resistiam à chegada do aconchegante brilho prateado da lua que começava a banhar os horizontes longínquos de toda a região.

O banco de madeira no lado leste da varanda da casa da fazenda estava um pouco empoeirado e desgastado  pela ação do  tempo que ficara desocupado desde a última vez que aqui me sentei.

Ao lado, como um guardião fiel e comportado, estava o meu fiel amigo “thor”, o cão que adorava contemplar a lua cheia. Fazia isto desde que a silhueta tênue da lua nova riscava o céu nos seus dias de reclusão luminosa.

Eu sempre me perguntava o porquê daquele comportamento costumás desde pequeno. Os outros cães da região latiam de forma normal à presença de qualquer movimento na noite inquieta enquanto o “thor” contemplava a lua, absorto. Isto me intrigava ao ponto de querer compreender o seu comportamento.

Um certo dia, decidi me colocar no lugar do cão e vivenciar o que ele pensava, mesmo estando certo de que nunca aquilo fazia sentido algum de minha parte. Mas insisti, arquitetando meus pensamentos humanos no cão. Imaginei-o contendo os seus impulsos diante de belas cadelas em um desfile para cães lá no alto do céu. Criei uma outra situação em que ele ficava confuso diante de tanta variedade de comidas sem saber, direito, o que comer primeiro. Em outra situação imaginei-o relaxado em um sofá, esparramado entre as pernas dos seus donos.

Foram tantas as outras situações que cheguei a ficar aborrecido comigo mesmo pelas tolices que imaginava. Vai levar muito tempo ainda para que cheguemos a compreender o universo de pensamentos dos animais, se é que um dia vamos conseguir.  Certamente vamos ficar surpreso quando se este dia chegar.

Bem! O que sei diante do meu cão absorto olhando para a lua é que ele estava, talvez, admirado pelo brilho que inundava toda aquela silenciosa região. Ele não poderia esboçar nenhum esforço para compreender o círculo prateado e o enodoado de crateras que se sobressaía em destaque, nem tampouco o que era aquilo que o hipnotizava constantemente lá no alto, fora do seu alcance.  Ele certamente, talvez, não tivesse a menor ideia do que estava olhando. Com certeza apenas olhava sem compreender o que via hipnotizado diante da luz.

O gesto do meu cão tem uma mensagem e um significado muito profundo que transcende qualquer expectativa e nos faz mergulhar em reflexões apaixonantes.

Não há diferença entre o cão, eu e você no que se refere a aprofundar o olhar para o desconhecido. O gesto do cão diante do brilho da lua envolve, talvez, a influência que a mesma exerce sobre as criaturas vivas inexplicavelmente, afetando o seu comportamento distintivamente. Apenas isto. O cão não entende nada.

O mesmo raciocínio envolve a criatura humana, só que direcionando o sentido em outra direção: O mistério cósmico e da natureza que nos cerca. O mistério do desabrochar das flores na primavera, tornando a estação a mais bela para o nosso encantamento.

A beleza da água fluindo em um pequeno córrego, o vento espalhando essências odoríferas pelos campos floridos, o voo do beija flor, o chilrear dos pássaros na mata, o fenômeno dos salmões na desova, a ausência da sombra frente à luz etc. etc.

O que torna o mistério mais intrigante ainda é sabermos que há no universo mais estrelas e corpos celestes que grãos de areia em todas as praias da terra. Isto é fascinante e ao mesmo tempo perturbador.

Como surgiu tudo isto e que sentido tem diante da nossa frágil existência. Foge completamente a nossa compreensão por maior e melhor que seja o nosso conhecimento. Nada melhor do que a ciência para nos transmitir que o mistério é mais complexo do que possamos imaginar. Mesmo portando inúmeros títulos doutorados e galgando elevadas posições no cabedal do conhecimento, não nos é permitido o conhecimento total.

Quer queiramos ou não, diante do mistério absoluto, somos iguaizinhos ao “thor”.

Não compreendemos nada. Somos por demais vaidosos, achando que entendendo um pouco, entendemos o mistério e pronto. A nossa ciência por mais veloz que seja no desbravamento de fatos, jamais conseguirá chegar ao fundo do conhecimento total, pois é como camadas de folhas sobre camadas de folhas no tempo geológico. Cada vez que removemos uma camada, outra e mais outras aparecem e nunca chegaremos ao fundo.

Se o que conhecemos da natureza e do cosmo é muito pouco, como é possível alguém dizer que conhece Deus e o Seu Universo. Assim dizem os religiosos e os pretenciosos da universalidade.

Não! Definitivamente não! Não! Não! E, não! Somos todos como o “thor”. Temos que observar a natureza e todo o universo em silêncio, não proferindo nada. Pois, não entendemos nada. Nada mesmo.

Pi-Nath

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2ª Concha 

 Uma tarde na praia.

Uma tarde agradável em uma praia de enseada de águas calmas. Os banhistas se divertem sob um sol apenas morno. Uma brisa fresca esvoaça o cabelo solto das mulheres. O lugar está cheio de crianças mais parecendo um parque infantil. Um bailado de gaivotas desenhando silhuetas chama a atenção de poucos observadores. Um dia perfeito para apreciação e contemplação.

Estou sentado em uma cadeira do tipo que desmonta fácil. Uma família está próxima e uma criança brinca correndo de um lado para outro com um pequeno balde de areia. Seu pai faz um buraco na areia estendendo, no fundo, uma película plástica formando um poço.

Chama o seu filho: – Filho! Venha aqui! O garoto chega perto do pequeno poço na areia e o seu pai pede para ele trazer água do mar para encher o poço. A água calma e rasa está logo ali perto.

O pai lhe diz: – Filho! Encha este pequeno lago com a água do mar e, quando estiver cheio, ponha nele um pequeno peixe do mar. O garoto entusiasmado com a tarefa assim o faz. Enche o balde com água e despeja no poço para formar um pequeno lago.

Eu fico só observando atentamente e admirado com o entusiasmo do pequeno e, o vai e vem com o balde d’ água. Passa-se quase uma hora entretido e não pára com a tarefa. De repente percebe que o poço já está cheio e chama o seu pai:

Pai! O laguinho está cheio. Só não consegui colocar nele um peixe, pois no mar não tem peixes. Seu pai retruca dizendo: Filho! Filho!  O mar está cheio de peixes. – Não pai! No mar não têm peixes. Tem sim, filho! E, muito!

Está formada aqui uma pequena  parte de uma indagação universal: Existe vida no universo?  Esta pergunta permeia todo o universo acadêmico, o universo filosófico, o religioso, o cultural e o universo comum das pessoas.

Uma das últimas fotos do Hubble mostrando milhares de galáxias.

Oceano de estrelas como o nosso sol.

Nebulosa do Anel rodeada de estrelas.

Não há neste caldeirão de itens, nenhuma certeza. O ceticismo é quase geral. Bem!  Voltemos à praia com o cenário do pequeno garoto.

Há certamente uma enorme faixa da água do mar, junto à praia onde não há sequer um peixinho. Isto não significa que não haja peixe no mar e nos extensos oceanos. Não há aqui o que se discutir. Estamos diante de um fato incontestável. Não nos fartamos por completo diante de tantas provas das quais apreciamos com tanto bom gosto: Os peixes e toda a vida subaquática. Só os tolos sabem que há peixes nos mares e oceanos e não acreditam que haja vida no universo.

 Pi-Nath

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3ª Concha 

O conforto e o desconforto.

Às vezes, naquele momento bem difícil nos perguntamos: Por quê?????? Enfim, criamos uma coragem disfarçada e perguntamos: O que é a morte?

Bem, não adiante fazer rodeios, pois vamos cair sempre no mesmo lugar: A morte é a AUSÊNCIA TOTAL DA VIDA. Não há maior clareza, segundo alguns. A pergunta a ser feita deve ser outra, o QUE É A VIDA?????

Aqui o universo literário é imenso e, geralmente está atrelado a culturas variadas e conceitos os mais distintos possíveis. Para melhor clarear o tema vamos nos atrelar somente à vida humana que está no centro desta intrincada questão.

No nascimento humano vemos dois fatos intrigantes: O bebê ao nascer, chora enquanto os presentes sorriem de alívio, satisfação e alegria. Porque o bebê chora nesta hora? Bem, o que podemos deduzir é que ele deixa o ambiente em que estava e repentinamente adentra a um outro desconhecido, inóspito e ameaçador.

Ele parece perceber este fato e, então, reage chorando. A sua primeira reação é buscar o aconchego, a proteção da mãe.

O panorama neste instante é o mais variado possível. Pode ter nascido no seio de uma família de posses e desde já conta com amplo amparo. Seu berço pode ser bem confortável, sua mãe e seus cuidadores são atenciosos, não lhe faltando atenção e principalmente amor. Outros podem não ter a mesma sorte, porém são bem recebidos e amparados de forma variada dentro das mais diversas formas. Alguns nascem no seio de famílias com bagagem cultural, financeira e emocionalmente estável.

Outros infortunadamente nascem nos ambientes os mais nocivos possíveis, sobrevivendo o mais curto de tempo possível.

A vida começa a se desenhar para todos os que estão vivos. Bem! Sabemos o que é a vida. O mistério está na vida, não na morte.

Pi-Nath

A dúvida 

Depois de uma conversa aplausível, o meu amigo descontraidamente me perguntou: Você acredita em Deus?

Fiquei em silêncio por alguns segundos e, uma grande dúvida se formou em minha mente: Devo dar uma resposta seca, segura e eliminar uma dúvida, ou fazer uma breve demonstração do que uma resposta não adequada para esta pergunta pode resultar no rompimento de uma amizade saudável. Lembrei-me de que, dependendo da resposta que irei dar, vou deixar exposta a minha conduta frente àquele conhecido insistente que tenho como amigo há algum tempo.

Respondi-lhe que a resposta é muito complexa e que revela uma parte do Eu Interior de cada um de nós e que muitos querem deixar em repouso. Senti-me na obrigação de ser honesto e fui enfático: De que deus você se refere?

Ora! Do Deus de todos nós. Respondeu-me com segurança. E, completou: Já sei você é ateu!

Respondi-lhe sem hesitação, não. Não sou ateu! Não tenho uma definição exata do que sou. Mas, não sou ateu! Isto pareceu aliviá-lo, mantendo-o, porém, com a insistência de que eu fosse mais claro.

Respondi-lhe o seguinte: Veja! Ao andar por uma grande cidade, como por exemplo, São Paulo, Nova York, você vê grandes avenidas, edifícios altos, viadutos, pontes, grandes estádios de futebol e outras obras arquitetônicas destacáveis. Como surgiram estas construções? Surgiram todas da habilidade mental dos homens. São criações do homem.

Você vê outras grandes obras, como por exemplo, enormes navios de cruzeiro, navios de guerra, aviões de vários tamanhos, alguns gigantescos, linhas férreas cruzando sobre o mar e abaixo deste, grandes catedrais, templos e igrejas suntuosas. Há que destacar aqui, o Hadron, o grande colisor de partículas que é a maior construção humana.  Todas estas obras são construídas com grande habilidade tecnológica, junto com ferramentas sofisticadas da ciência. Porém, tudo é fruto da habilidade mental humana. Há também, as grandes obras literárias, as sete artes e, com grande destaque entre tudo, A BÍBLIA e DEUS. Tudo é, porém, criação humana.

Se entre todos os animais que habitaram e habitam a terra, o ser humano não existisse, nada do que foi descrito aqui existiria. O ser humano é o responsável por todas estas belas realizações e criações.

Pi-Nath

O frenesi, a trégua e o eco do tambor.

Caro amigo e amiga: Antes de iniciar este texto, preciso me identificar, pelo menos superficialmente, para poder concluir este escrito de forma a poder me expressar e me fazer entender adequadamente.

Meu nome é Pi-Nath (psi).  Sou um agnóstico holístico, fascinado por todas as ciências, desde as humanas, as biológicas e as ciências exatas. Tenho admiração e respeito por todas as religiões, até pelas posições e manifestações que não envolvem o sagrado. Sou estoico, um observador silencioso e me pauto, quase sempre, como um totem em contemplação diante dos mistérios da natureza, aqui na terra e, os corpos celestes no espaço sideral. Procuro entender e compreender o papel de um inseto, o chilrear de um pássaro, o borbulhar da água em um córrego, o voo da águia, um belo pôr do sol, o furor da tempestade, a força de um predador, as várias formas de inteligência, o cair das folhas no outono, as criaturas vivas e… Principalmente o ser humano em todas as suas manifestações. Tenho respeito por tudo àquilo que é vivo, respira, anda, nada, rasteja e voa.

Tudo me fascina e tudo me intriga. Isto é um sinal de que me reconheço muito pequeno diante de um universo impossível de ser dimensionado. Há beleza e mistério em tudo aquilo que é conhecido e principalmente naquilo que não compreendemos. Há beleza e mistério no nascimento, na morte e, sobretudo no transcorrer da vida. Somente os tolos e os desprovidos de raciocínio não se dão conta da magnitude da existência. Destaco, aqui, com muita humildade, o esplendor que envolve o ser humano com todas as suas diversidades. Compartilho das alegrias da vida, das tristezas, das solidariedades e, nos momentos de reclusão me refugio no meu próprio santuário e, às vezes, me ponho a chorar silenciosamente diante daquilo que quebra a simetria da vida. Mas, acabo sempre me recompondo, encontrando a Beleza em tudo. Esta é uma característica de todo o ser humano que se sente impotente diante da vida.

Pi-Nath