O doador, o orgulho e a repulsa

O doador, o orgulho e a repulsa

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6:00hs da  manhã. O carroceiro passa aos gritos: – Recolho óleo usado! Garrafas plásticas! Cestos de roupas velhas! Tralhas e mais tralhas!
– Vamos falar para ele desta vez! Comentou um dos dois vigias da rua, que tomavam conta, quase que exclusivamente, da suntuosa residência do número 271.
– Carroceiro! Seja qual for o seu nome! Temos ordens de fazer com que você não passe mais por aqui com a carroça na frente da residência da Sra. Georgina. Não sabemos o motivo, mas recebemos dela esta ordem e, para não perdermos nosso emprego, temos que cumpri-la. A partir de amanhã, não passe mais por aqui.
O carroceiro Assis resmungou pelos cotovelos e se retirou queixoso, puxando com força, a sua velha carroça já lotada com o que recolhera durante a madrugada e o raiar do dia. Tinha uma família para alimentar, levando a vida de carroceiro por não ter outra opção.
Os vigias da rua tinham ordem expressa de sua patroa, para evitar o máximo possível, a presença de pessoas pobres e maltrapilhas em frente a sua residência, mesmo que só de passagem. Os homens da guarda nada tinham contra a proprietária da casa, pois era dela, que retiravam o sustento para si e para suas famílias, mas tinham um certo temor de serem repreendidos e até mesmo perderem o emprego.
Sra. Georgina, mulher de expressão forte, orgulhosa e endiabrada, que foi capaz de matar o seu esposo de tanto contrariá-lo. O pobre homem morreu de desgosto, pelo fato de viver ao lado desta velha onça, como se diz no jargão popular. Homem bondoso que não foi capaz de resistir aos desencantos desta desventurosa senhora. Perdeu as forças, não sendo  capaz de se retirar da vida dela enquanto vivo. O ar que respirava perto dela deve ter sido a causa de, um certo dia, lhe provocar uma parada cardíaca e respiratória simultaneamente, matando-o imediatamente. Não houve choro por parte dela, pelo contrário, houve uma certa alegria, atrás de uma tristeza disfarçada, pois a deixava definitivamente livre para que pudesse tocar os negócios das empresas sem uma voz opositora.
A Sra. Georgina era uma mulher de negócios. Uma empresária reconhecidamente como do topo do sucesso. Sua voz cativante e determinante ditava o que lhe tinha interesse ou não. Infalível na hora de negociar e não tinha prejuízos em nenhum dos negócios realizados. Não tinha o hábito de se desculpar por nada. Levantava cedo, saindo de sua residência em um bairro nobre da cidade, para acompanhar as atividades de produção em várias fábricas na periferia da cidade. Trabalhava todos os dias da semana, sendo que nos fins de semana, suas atividades eram mais estressantes, pois tinha de organizar desfiles, para mostrar as novidades de sua produção. Era uma designer de modas muito conceituada.
Tinha uma propriedade rural muito bem organizada e administrada. Era uma fazenda produtora de soja.  Mas, produzia muitos outros produtos, como frutas, verduras e derivados de uma granja. Era severa e impunha medo junto a todos aqueles seus empregados. Andava sempre com a sua secretária e um guarda costas. Visitava esta sua propriedade apenas uma vez a cada mês, pois fora das suas atividades na área de modas, não lhe restava mais tempo. 

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Havia, entretanto, um grande contratempo que a deixava aborrecida em excesso toda vez que visitava a propriedade: Um pequeno sítio bem à frente da entrada de sua primorosa fazenda. Tinha dez alqueires com várias minas d’água, 3/4 de florestas preservadas, pequenos animais e passarinhadas.  Nele morava uma família humilde formada por um casal e oito filhos, sendo que o mais velho tinha apenas oito anos e o mais novo, seis meses de idade. Geraldo era o nome do chefe da família, odiado pela Sra. Georgina, junto com a mulher e toda a sua prole. O sítio pelo de fato de ser de uma pessoa simples, não tinha,  a suntuosidade e esmero, bem visível na entrada da fazenda da Sra. Georgina. Esta era a razão que movia tanto ódio por parte da ricaça, pois afeava a entrada da propriedade. Havia, também, uma outra razão bem forte, que era, o caso do sítio ser  um enclave indesejoso à  uma extensa área de terras bem agriculturada de um grande amigo da Sra. Georgina.
Gabrielle, a única filha da Sra. Georgina,  adolescente de quase quinze anos costumava ficar na fazenda mais tempo do que a sua mãe. Havia uma razão. Na fazenda tinha cavalos, bovinos, caprinos e uma granja com galos e galinhas. Ela adorava tudo aquilo. Havia também, bem na frente da fazenda, a família do Geraldo com toda a criançada onde ela adorava brincar. Na pequena casinha, adornada com carinho e amor fraternal era mais alegre que os brinquedos vazios na casa da rica menina.  Existia uma carência paternal visível na Gabrielle. Ela não tinha pai e via, no Geraldo, aquela figura amorosa que nunca tivera na vida. Sua mãe não tinha conhecimento do fato de sua filha manter contato com o seu indesejável vizinho da frente.
Esta senhora, rica e orgulhosa, portava um grande defeito: Uma chocante repulsa por pessoas pobres e humildes. Para ela, todas as pessoas deveriam ser ricas e, todos os pobres varridos para bem longe da sociedade consumidora.
A vida dos ricos é invejada por quase todo mundo, pois podem se dar ao luxo de terem vários carros, iates e criados. Casas com piscinas e serviçais para lhes dar atendimento em tudo àquilo que quiserem. São criaturas solitárias que vivem em ambientes amplos, com pouca família e lares desfeitos por falta de amor. Suas refeições são servidas em pratos de cristais, rodeados por talheres de prata e criadagem farta. Seus deuses têm estampas refinadas e navegam diariamente em cédulas de alto valor em bolsas de valores.
Comem pouco. Dormem pouco. Trabalham muito. Felicidade não a tem. Quando a tem, esta demora e, lhes chega bem pouco.
Sra. Georgina tinha uma grande paixão que era ao mesmo tempo a sua preciosa joia reluzente: Sua única filha, Gabrielle Burnier. Jovem adolescente completando logo mais, quinze anos.  Linda demais! Frequentava uma faculdade de modas e era a herdeira de todo o império de modas e negócios da família Burnier. Sua mãe, súdita inveterada e prazerosa não media esforços para dar prazer e alegria desmedida a sua adorável filha.
Sabemos como é a vida dos ricos. Agora vamos ver como é, de fato, a vida dos pobres. Falamos, agora, do Geraldo e sua prole.

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5:00 hs. Da manhã. O sabiá desafia com estardalhaço, a saíra para ver quem dos dois tinha o gogó mais afiado. Um olhar profundo se alonga sobre as árvores apinhadas de passarinhadas, aquelas em cujos espíritos fecundos soluçavam, silenciosamente, suaves agonias durante a madrugada. Lá, nas olmeiras, ninhos onde vencidas de fadiga, a alma inocente dos pássaros se abrigava e a tristeza de muitas almas chagadas se recolhia na noite passada. Pela fria fluidez azul do espaço eterno, em omissão involuntária das coisas que deveriam ser escritas, sorria a ironia longínqua das estrelas entre o cantarolar desenfreado da passarinhada. De vez em quando, cães ladravam ao longe em sobressalto, e na granja da herdade, o cântico dos galos estalava desoladoramente pelos ares, acordando as distâncias descampadas.
O Geraldo já está de pé,  despertado de um sono bem contemplado. Sua primeira ação, antes de qualquer atividade do dia, é fazer uma oração à Nossa Senhora Aparecida na pequena capelinha ao lado da casa. Era  um devoto fervoroso da Santa.  Sua vaquinha Oldacira já estava à espera do chefe a lhe massagear as tetas, para extrair o leite da gurizada. Os meninos ainda dormem mergulhados nos sonhos de suas inocentes fantasias. Dona Aimara, mãe de toda a criançada está com a pequena mesa arrumada com as broas de milho e os canecos de garrafas plásticas a espera do pouco de café com leite, que logo mais estará pronto após a chegada do Geraldo com o leite da vaca Oldacira.
Nas árvores onde se abrigavam os pássaros, cujas almas contorcidas se banhavam no frescor da luz orvalhada do matinal, o despertar convulsivo lhes abraçara com toda uma dilatada carga. Os primeiros lampejos do clarear matutino  mostram lá no alto, a silhueta das causas planejadas de um dia que prometia ser desanuviado.
Assim é o despertar de mais um dia na família do Geraldo, remanescente dos Jussara, povos lá das terras dos Palmares. O dia começa agitado entre as criaturas das árvores que sobraram das florestas extensas em terras bem plantadas.
No pequeno barraco de madeira, toda a prole do Geraldo e da Dona Aimara se acomoda na área bem apertada. Como se diz no ditado popular: No coração de mãe sempre cabe mais um. No barracão com pouco espaço do Geraldo e de toda  aquela criançada,  não só cabe mais um, como muito mais que um, em um apertado espaço cheio de amor pasmado. Não há como descrever o quanto o Geraldo junto com dona Aimara e, aquela humilde criançada era feliz no pequeno sítio desavisado.
Os pássaros entoam nas árvores altas e baixas, as estrofes finais antes da revoada em direção aos extensos arrozais. Esta não é uma terra de humanos, é um santuário onde os anjos em festa se regojizam com suas canções etéreas, celebrando a Criação. Tudo em nossas vidas tem um começo, um transcurso e um final. O santuário também terá um final, pois a cobiça desenfreada dos homens destruirá uma das últimas pinceladas da Criação.

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Festa dos quinze anos da Gabrielle Burnier.
Como era de costume todos os anos, a Sra. Georgina realizava grandes festas para comemorar o aniversário de sua filha Gabrielle. Sua residência em um lugar nobre da cidade recebia todos os convidados, seus e de sua filha com grande galhardia. Era um ambiente requintado, muito bem decorado que atendia aos mais refinados gostos. Neste ano, a atenção era outra: A festa de quinze anos de sua filha. Tudo fora bem preparado com bastante antecedência e o grande salão de festas estava todo decorado. Os convidados chegam e logo começa a tão esperada cerimônia festiva dos quinze anos. Desta vez, em um dado momento, Sra. Georgina pediu a sua filha para que fosse tocada aquela música que ela adorava. A Gabrielle protestou, pois sabia que não era uma música da época, mas uma bem antiga, do fim da década de 70,  não conhecida pela sua turma. Mas, depois de muito custo, concordou com a sua mãe. Começou o som!

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Inicialmente o público juvenil aferventado  ficou quieto aos primeiros acorde de Bee Gees – Stayn Alive, mas depois tudo explodiu numa movimentação contagiante. Bem! Não era por menos! Tratava-se da febre dos Embalos de Sábado à Noite, aquele tipo de música que inundou o mundo todo numa cadência rítmica  que fazia todos ficarem frenéticos ao som daquele balanço.  Os meios de comunicações, já espalhados por toda parte, levava aquela mensagem musical que todos entendiam e apreciavam. Nas televisões e rádios o fenômeno Bee Gees era o que todos queriam ouvir. Os jovens e mesmo os adultos ficaram  contagiados por aquele som que se espalhava por todos os cantos mundo afora. Nunca uma época foi tão festejada como naquela em que os sábados à noite era a referência de todos os jovens do planeta, do Sul ao Norte, do Leste a Oeste. O mundo todo estava na dança. Tudo era Bee Gees, Bee Gees, Bee Gees.   Ninguém ficava parado ao  som daquilo que parecia ter sido derramado dos céus. Na festa dos quinze anos da Gabrielle todo mundo curtia a dança, incluindo a Sra. Georgina. Nesta hora, ela virou uma jovem ativa e botou pra quebrar. Foi o seu único momento de descontração, talvez em toda a sua vida. Alguns dos pais da garotada, aqueles nascidos na década de sessenta foram os que mais se entregaram à dança sem dar bola para a idade. Também pudera, a música era contagiante,  arrebatando os corações de todos dali,  mesmo fora de sua época inicial.  Quem viveu aquele tempo,  classifica-o como sua época de ouro.   A animação continuava e ninguém se dava conta de que , talvez estivesse exagerando, mas, bem, era uma festa e ninguém reparava aos excessos. A festividade se estendeu até quase à meia noite ao som de outras músicas do mesmo fenômeno Bees Gees.
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Quando tudo terminou e, todos foram embora, a Sra. Georgina e a Gabrielle estavam exaustas, mas felizes.

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Passada a semana festiva da comemoração dos quinze anos da filha, a Sra. Georgina deu vazão, nos bastidores da vida, às ações dos protagonistas das sombras que finalizavam seus planos maléficos. Era uma ação maldosa em demasia, que envolvia o pequeno sítio do Geraldo. Houvera, uns tempos atrás, uma investida do proprietário em frente à propriedade da Sra. Georgina, no sentido de se apropriar da pequena terra do Geraldo. Esta gleba era remanescente de uma grande extensão de terras de um fidalgo da coroa portuguesa, séculos atrás, fatiada entre fazendeiros do estado. A área estava na mira desta pessoa que insistia em burlar a lei da Usucapião para tomar as terras. Esta não era a primeira investida deste homem poderoso cheio de cobiça. O Geraldo já sofrera outras investidas do mesmo homem, no sentido de lhe arrebatar suas poucas terras. Eram herança de antepassados distantes. Mesmo não tendo um documento oficial que lhe atestava proprietário, ninguém poderia lhe tomar, pois estava em mãos de sua família há mais de cento e cinquenta anos. Estava protegido por lei. Mas, até quando?  Diante dos poderosos… É difícil resistir.
A bondade humana pode ser muito grande, mas a maldade pode não ter limites. É insana e provoca muitos danos.
A Sra. Georgina nunca separou, durante toda a sua vida, mesmo um pequeno espaço de tempo para saber que existe um mundo espiritual que se manifesta, paralelamente, a cada ação humana. A bagagem material dela era muito grande e pesada, enquanto a bagagem espiritual não existia. Isto é um fenômeno próprio das pessoas ricas. Não há espaço para outras coisas, além da existência material. Todas são muito frágeis e não sabem.
Ela não aprendeu que cada ação que se pratica gera uma reação. Se a ação é boa, gera uma reação boa, pode até demorar o retorno, mas sempre volta. Se a ação é ruim, a reação é ruim só que, neste caso, o retorno é de uma reação multiplicada, devastadora. Às vezes, não demora, é infalível, chega rápido e é nefasta. 
Enquanto isso, nas altas horas da noite, às escondidas em um escritório de advogados, um bando de malfeitores, os chamados bandidos do colarinho branco, chefiado pela Sra. Georgina e o proprietário da fazenda em frente a sua, juntos com seus respectivos advogados, brindavam com champanhe uma vitória forjada pela derrocada de uma pessoa fraca. O Geraldo do sítio.
Engendraram um artifício falso para burlar a lei da Usucapião, permitindo que as terras do Geraldo fossem desapropriadas sem contrapartida. Uma ação devastadora. Não tinham ideia do mal que estavam para fazer a uma família pobre. Terrível! Terrível!…
Um dia triste.
O Geraldo estava nervoso ao se levantar pela manhã daquele dia amanhecido nublado. A passarinhada parecia ter percebido alguma coisa estranha e debandaram mais cedo. A vaquinha Oldacira não quis dar leite naquele que parecia ser um dia pesado. A criançada estava esquisita e a mãe chorosa. Nada à vista, ainda, mas havia um prenúncio bem forte à vista.
Não demorou muito e uma nuvem de poeira grossa se formou lá longe na estrada. Trazia junto uma notícia bem desagradável. Apressada,  chega a caravana.

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Um pesado caminhão baú chega à porta como se estivesse saindo ileso de um enorme fosso. À frente, um carro preto com um oficial de justiça que desce às pressa para entregar um envelope ao Geraldo, com toda força. Era uma intimação oficial para desocupar o sítio no prazo de duas horas, voluntário ou mediante a força. Atrás, uma viatura da polícia com agentes portando arma de fogo. Foi um duro choque para toda aquela família doce.
Choro e desespero tomaram conta de todos. Não havia um pássaro sequer nas árvores, ali perto, para testemunhar aquele momento doloroso. Apressado com lágrimas lhe inundando todo o corpo, Geraldo pega suas poucas coisas e com a ajuda das pessoas da escolta colocam tudo no caminhão baú. Cada passo que dava, uma dúzia de lágrimas era derramada, depois do portão, no chão todo empoeirado, onde tudo já estava escuro como um calabouço. Uma rampa de madeira foi improvisada para a subida da vaquinha Oldacira que imaginava está indo direto para o matadouro. O cachorrinho estava mais assustado e tonto, que parecia um bêbado sem saber para onde correr. A criançada não avaliava a gravidade da situação. Estavam confusos, mas ansiosos de andar pela primeira vez de caminhão. Dona Aimara, paralisada sem forças, não sabia se gritava mais alto por socorro ou segurava com mais força a criançada pequena para não caírem, todas, no fosso. Depois de tudo jogado no caminhão, porco, galinha, cachorro, cabrito, coelho, caçarola, pratos, canecos, bacias e restos de rapadura chocha, era a vez de Dona Aimara chorosa e por último, o Geraldo abraçado à imagem de Nossa Senhora Aparecida,  todos molhados de lágrimas. Fecha-se a porta traseira do caminhão baú e, agora está tudo escuro feito um calabouço dentro de um outro calabouço.
A história do Geraldo, da Dona Aimara, da criançada e da bicharada pára aqui e, não pode continuar a ser contada, pois é triste e chocante, podendo provocar perturbação emocional . Pode, entretanto ser abreviada.

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Foram atirados, distante, sem um destino certo, em uma terra seca, esturricada sem sequer, um olho d’água. Oldacira, a vaquinha tão amada, lá no sítio do Geraldo, nunca mais dera um mugido. Suas tetas secaram e, não dera mais leite, sequer uma gota. Durou apenas três meses e, morreu de fome. A menininha, pequenina, de apenas poucos meses, secou toda, não tomava nem mesmo um pouco de sopa. As galinhas, os porquinhos e os outros duraram pouco. Foram sendo sacrificados um após o outro, para atenuar a fome, aos poucos.
Dona Aimara, a mãe toda solta em amor não sabia mais o que fazer. Num dia que estava muito aflita, saiu a procura de raízes ou outra para todos comerem e,  num passo falso que dera, derrapou-se num grotão sobre uma cobra que lhe fincou uma picada e, uma outra na menina do meio e outra no cachorro. Não duraram pouco mais de duas horas. Foi um dia desesperador.
O Geraldo, quase louco de tanta dor, deixou o lugar com rancor,  agarrado ao grupo de garotos que restou. Passados pouco menos de seis meses migraram todos para a cidade grande. Passaram a sobreviver como esmoleiros e pedintes debaixo da ponte com o olhar cheio de tanto horror. Lá, conheceram o Assis, o carroceiro que também vivia no meio da dor. Este, muito bondoso, deu guarida àqueles seus irmãos, todos chagados e inundados de clamor.
Sra. Georgina, com tanto dinheiro correndo solto, não dava bola para o pouco que não lhe convinha. Continuava com a mesma vida, correndo sem dar muita trela aos princípios da vida.  

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A entrada da sua fazenda estava, agora, do jeito que ela sempre sonhara. Em frente, no lugar do sítio desajeitado, agora se vislumbrava uma extensa área verde, cultivada de soja, num estágio que deixava tudo como um infindável tapete  que se perdia de vista e se estendia até o horizonte. Todas as árvores pequenas e grandes haviam sido removidas e não existia mais aquele primoroso bosque que compunha  o lindo cenário da passarinhada em algazarra, todos os dias, no final da madrugada.
Consumada a vitória dos desalmados, eles não atentaram para o fato da reação dos seus atos, que mais cedo ou mais tarde, iria lhes laçar. A Sra. Georgina não tinha ideia de que, pelo caminho que sempre passara, ela mesma semeara espinho por toda parte. Agora, ela não só semeou espinhos como também, cacos de vidros afiados pelo mesmo caminho. Ela não imaginava que, pelo caminho que trilhou, por ele mesmo iria voltar…. Só que descalça.
Muitas vezes, o retorno de ações maléficas praticadas injustamente sobre os mais fracos não recai sobre o algoz, mas sobre aquele que está mais próximo do algoz para que o castigo seja maior. Vejamos como ocorre!
Um dia, ao visitar a fazenda, a Gabrielle não viu mais o sítio do Geraldo ali em frente. Esconderam-lhe o que tinha acontecido e, simplesmente lhe contaram que todos haviam ido embora para bem distante. A mocinha ficou arrasada, chegando até a passar mal.
Um certo dia, à tardinha, Gabrielle chegou em casa, acompanhada de uma das suas amigas de classe. Estava cansada e aparentava um desconforto visível que estava apenas começando. Agradeceu a sua amiga pela companhia conduzindo esta até a porta de saída.
Sua mãe estava em casa, fato que não era comum, pois seu horário de chegada passava, todos os dias, sempre das 21:00hs. Sra. Georgina também apresentava um desconforto que logo lhe tosou a harmonia do corpo. Depois que finalizaram o jantar, trocaram algumas mensagens por telefone e foram para seus aposentos descansar. Quase à meia-noite um grito ecoou pela casa grande, vazia de gente. Era a Gabrielle gritando por ajuda: – Mãe! Socorro! Socorro! Socorro!  E… Silenciou.
A senhora sua mãe, apressada, atendeu-lhe o pedido e logo chegou. Encontrou a Gabrielle fora da cama, estendida sobre o tapete, quase desmaiada, ainda balbuciando o pedido de socorro. A Sra. Georgina mesmo ainda sentindo o desconforto, se apressa e liga para o médico da família que pouco demorou.
Doutor Ozires, médico prestativo e bem conceituado junto à família Burnier desde longo tempo, prontamente lhe atendeu o pedido e, minutos depois já estava fazendo uma avaliação da Gabrielle. Notou uma certa gravidade no quadro de saúde da mocinha, comunicando a Sra. Georgina da necessidade de levá-la rapidamente para o Pronto Socorro de sua clínica. Chegando na clínica entregou a Gabrielle a sua equipe de socorristas médicos, para voltar imediatamente à casa da Sra. Georgina que, desta vez era esta que passava mal. Sabendo que a mocinha estava sendo bem atendida pela equipe, se dispôs a ficar mais com a Sra. Georginda pois, esta senhora não apresentava preocupações e só precisava ficar um pouco na companhia do médico. Havia apenas uma queda de pressão que se somou à preocupação com sua filha, situação esta, logo contornada. O Doutor Ozires voltou a sua clínica para se inteirar do quadro da Gabrielle. A mocinha passou a noite inteira desacordada e não dava sinais de que iria se recuperar rapidamente. Passou por uma bateria de exames que não comprovou nada de anormal, exceto que a taxa de glóbulos vermelho no sangue estava caindo velozmente. Estava pálida e isto comprovava um desequilíbrio sanguíneo. A grande vantagem que têm as pessoas ricas é o cabedal de assistências e de recursos de que possuem à sua disposição, sendo logo socorridas.

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O dia se iniciou com uma corrida intensa. Agora já não mais na clínica do Doutor Osíris, mas em um hospital de que dispunha de muito mais recursos, do qual, o doutor era um dos diretores. Exames mais apurados eram realizados e o resultado, o mesmo, que apontava apenas para um problema: Os glóbulos vermelhos no sangue da Gabrielle estavam diminuindo rapidamente. Todos os esforços em reverter a situação estavam sendo em vão, mesmo empenhados com toda força. A salvação do quadro, já gravíssimo, estava em um transplante imediato de medula. O tempo estava no fim. Todo um aparato de comunicações entre clínicas, prontos socorro, vários outros hospitais e, pessoas de toda parte do estado estava montado para descobrir um doador com o sangue compatível com o de Gabrielle que era raríssimo.
A Sra. Georgina acompanhava à distância, em casa, pois não tinha condições emocionais de presenciar, de perto, o drama de sua filha. Toda uma estrutura de alguém que se julgava muito forte estava ruindo, como um paredão de uma represa desmoronando aos poucos, diante da força incontida da natureza. Ali também estava presente a força de uma outra Natureza: A natureza do Universo Espiritual com suas leis que muita gente não tem interesse de conhecê-las e, que por vezes, o furor de seus desfechos  está encerrado na contenção de muitas das impensadas ações humanas.
Ela, em casa, assistida por médicos, auxiliares e assistentes, estava sozinha, afogada no seu desespero quase certo, de perder a sua única filha, o seu único e verdadeiro tesouro. O tempo corria desenfreado e não se encontrava nenhum doador compatível. O diagnóstico fatídico estava delineado: Havia apenas uma janela de tempo, de pouco menos de duas horas, para se encontrar um doador. Apenas um milagre poderia se inserir naquele espaço de tempo tão curto.
A notícia foi levada a Sra. Georgina que já estava um andrajo e que rapidamente teve que ser tratada para não ter um colapso. Um médico ali presente lhe dera uma medicação para conter o seu rompimento final de existência. A menina não tinha mais salvação, era o que se passava em sua mente dilacerada. Agora ela era a mãe, aquela criatura tão singular que Deus colocou na terra para provar os sabores e os dissabores da vida e ter os laços, da afinidade familiar, bem afiados nestas horas de angústias e exasperações. Tudo lhe era resolvido com dinheiro. Agora ela estava diante de um drama que não poderia ser resolvido nem com muito dinheiro.

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O vento sibilava calmo e suave sobre as ondulantes colinas verdejantes, no alto da serra, que mais parecia um mirante para se vislumbrar o céu e a terra. Lá longe, entre as igualdades das fraternidades,  o azul anil tingia as montanhas, aquelas, onde nenhuma se sobrepunha as outras,  cingindo o nublado índigo esverdeado ao horizonte apudorado. Tudo se inundava de cores, de ingenuidade e poesia celestial. O cenário estava criado para isso, numa tarde encharcada de trova graciosa em meio a uma harmonia silenciosa.  Uma abertura entre as nuvens testificadas espargia a luz solar contemplativa em raios convexos sobre o outeiro de paz, numa despedida singela sob o hino da conquista que adentrava, lá longe, o portal do paraíso.
Não era, entretanto, um panorama aprazível nem muito menos festivo. Lágrimas silenciosas, aquentadas, escorriam na face taciturna de todos ali presentes. Era uma separação que transbordava o nível de afeição mais que dolorosa. Um adeus que envilecia todos os corações. Entre todos os ali presentes, jovens, adultos e idosos,  a Sra. Georgina era a única amparada dos pés à cabeça, como uma estátua sendo fixada numa praça, sustentada por estacas.
Não era um ser humano. Era um trapo crestado pela dor da perda que não podia ser medido, nem aqui ou qualquer outro lugar perdido. Não podia se manter ereta.  Um destroço que respirava com dificuldade a fragrância das Colinas verdes, pacificadas, sob os acordes do hino twenty eighth parallel.
Sua pulsação se acelera. Sua respiração se ofega.  Um suor frio e quente ao mesmo tempo lhes inunda o que lhe resta de semi -viva–alma,  na hora em que o ataúde quebra a horizontalidade e se adentra suavemente em direção ao calor da campa.   Triiiiimm! Triiiiimm! Triiiimm! Uma voz acidulada e distanciada,  apressada quer lhe inundar os ouvidos quase estancados. Uma sacudida truculenta lhe faz voltar à realidade. Sonho terrível! – Acorde Sra. Georgina!  O telefone toca! Triiiimm! Triiiimm! – Alô. Georgina… É a voz do Doutor Ozires do outro lado da linha. Ela não quer atender, pois tem medo de que aquele seja o sinal do desenlace.   Ele insiste. Ela atende. Ele lhe transmite:
– Georgina! É assim que ele a chama. – Conseguimos encontrar um doador e na barreira dos últimos minutos conseguimos fazer o transplante de medula na nossa Gabrielle tão querida. Agora, só resta torcer para que ela consiga reagir.
– Oh! Oh! Oh!  Esta é a única coisa que balbucia.
Uma chama, mesmo que pequena, quebra  a frieza, espargindo um pouco de luz na escuridão, do então, mundo da Sra. Georgina.
Ela confiava na maestria médica do Dr. Ozires, pois o conhecia muito bem. Passou o dia respirando um ar que lhe trazia uma essência forte de esperança. Estava confortada e bem melhor.   Era um gesto de quem vive na fé e tem uma crença. Mas ela, na verdade não tinha crença nenhuma e nem vivia na fé. A aurora dos seus dias estava, sempre, na perspectiva de ganhos maiores. Só isso.
Passou o dia recebendo notícias de que a Gabrielle reagia bem ao transplante que passara.
Seus negócios corriam bem nas mãos dos seus assistentes competentes. Apenas ela se achava ausente.
Três dias se passaram onde a Gabrielle se achava na mira sempre constante da equipe médica que não arredava o pé de perto dela. Saiu espontaneamente do coma, esboçando um sorriso contagiante envolvendo todos, principalmente o seu padrinho Dr. Ozíres que também não arredava o pé de perto dela. Começava uma bonança branda, brilhante, inundando todos os que participaram do seu drama.

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Duas semanas se passaram desde que ela saiu do coma. Metade desse tempo passara em casa junto com a sua mãe e, uma visita, quase diária do Dr. Ozíres  para ter certeza de que tudo esta bem com ambas.
A Sra. Georgina estava mudada. Mudada como se tivesse sido batizada no Rio Jordão por uma longa imersão que parecia ter lhe tirado, as inhacas travestidas de orgulho e repulsa. Nestes dias que estavam juntas, passaram a celebrar à vida como se nunca tivessem tido uma, ou não soubessem o que é uma vida. Seu médico definiu um dia e um horário apropriado para as duas estarem presentes no consultório.
Chegou então o dia.  A Sra. Georgina e Gabrielle chegam à sala de espera do Dr. Ozires.  Ela está bem e abraça carinhosamente a sua filha. Enfim, passaram por momentos muito difíceis, encampando, tenramente, uma aproximação mais voltada ao amor entre mãe e filha, em lugar daquela aproximação voltada mais a interesses de conveniência. Ela estava imbuída de um sentimento que nunca antes lhe fora comum, como que ungida de um refrescante banho de humildade.
Mas, ainda cometera um outro desliza grave, enquanto esperavam, maculando uma intenção próxima a gesto de naturalidade: Uma pessoa sentada à sua frente exibia traços claros de  alguém  bem simples, ali naquele lugar de espera mais refinado. Era uma criatura  de aspecto franzino. Parecia uma jovem da forma que estava ali visível .  Portava uma máscara no rosto, além de uma faixa que lhe cobria toda a cabeça e vestia um jaleco branco. A Sra. Georgina pegou no braço de Gabrielle, instruindo-a a se afastar daquela pessoa meio asquerosa em sinal de repulsa.
Abre-se a porta do consultório do Dr. Ozires e a assistente pede para Sra. Georgina entrar com a Gabrielle. O médico deixou extravasar um largo sorriso acolhedor quando as encontrou. Tinha em mãos, os últimos exames médicos da Gabrielle, atestando que ela estava completamente curada e, que não apresentava mais nenhum cuidado.
– Sra. Georgina! Gabrielle! Que honra encontrar as duas, agora que todo o perigo passou! Não houve antes, uma oportunidade para que pudéssemos conversar mais detalhadamente. O ambiente, antes, era de temor e preocupações. Portanto não tínhamos como conversar mais à vontade.
– Bem!  Vocês estão muito bem! Não há mais com que se preocupar. Vocês vão ter uma longa vida pela frente,  portanto não percam tempo em vivê-la  intensamente.
Depois de uma conversa descontraída sobre tudo o que aconteceu, principalmente da dificuldade que houve para encontrar o doador certo na última hora, o Dr. Ozires anunciou que o mesmo estava ali perto e, que era um paciente seu em caráter especial.
A Sra. Georgina expressou ansiosamente, o desejo incontido de conhecer aquele que salvou a vida da Gabrielle. Queria agradecê-lo, sobremaneira, aquele gesto grandioso que tinha salvado a vida da filha, como de certa forma, também, todo o império dela. Tinha uma dívida eterna para com o doador.
A porta entreaberta da outra sala dá a Sra. Georgina, a visão das enfermeiras retirando dele, o jaleco, a faixa na cabeça e, por fim, a máscara no rosto. O doador entra na sala, ativando um descontrole imediato na Sra. Georgina. Espere! Espere!  Não é uma jovem! É o… Geraldo!!!!!!! Muito abatido e quase irreconhecível.
Ela o reconhece, apesar do seu aspecto maltratado. Empalideceu e, o chão sob os seus pés desapareceu. 

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Pouco tempo depois, já recuperada, reuniu as suas combalidas forças e num gesto quase impossível de acontecer abraçou fortemente o Geraldo  com os olhos cheios de lágrimas. Reconheceu os graves e terríveis erros que cometera e pediu perdão. – Me perdoe! Me perdoe! Me perdoe! A Gabrielle também o reconhecera e o abraçou.
E, só ele sabendo do terrível sofrimentos que passara, perdoo-a.
Deus nos revela estes momentos lindos e inesquecíveis para nos mostrar que não estamos sozinhos.
O Dr. Ozíres e as enfermeiras estranharam, surpresos, o desmaio da Sra. Georgina. Ela se justificou no emocional e se desculpou. Ela era uma fortaleza material e sucumbira pois, na verdade era apenas um bastião de papel. E, ele?  Um alcácer de rocha.
Mas! Mas, como é que o Geraldo apareceu neste cenários? Bem! Voltemos a quase um mês no tempo:
O Geraldo era um catador de papelão e garrafas plásticas na grande cidade. Um certo dia, conduzindo a sua velha carroça pela rua, foi atropelado por um carro, cujo motorista estava comprovadamente embriagado. Ficou estendido na rua, todo ensanguentado e quase morto. Demorou até que apareceu um socorro que o levou ao pronto socorro municipal. Chegando lá, ficou numa maca no corredor e ninguém lhe atendia. Depois de um longo tempo foi conduzido até a sala de cirurgia onde fora operado, pois tinha uma forte hemorragia. Seu estado era crítico e precisou de uma transfusão de sangue. Foi aí que, dias depois, a rede de procura de um doador para a Gabrielle se revelou. O Dr. Ozíres, depressa chegou ao Pronto Socorro e retirou sob os seus cuidados aquele paciente em frangalhos. Tratou-o até que conseguiu estabilizar a sua saúde. Depois procurou saber se ele poderia ser um doador de medula e este concordou. Não importava quem seria o receptor.
O Dr. Ozires, quando procurou descobrir algum familiar do seu paciente para inteirá-lo do seu estado, ficou sabendo de uma história muito curiosa acontecido no hospital. Segundo se inteirou de um moço chamado Assis, um outro carroceiro da cidade que, quando estava ao lado da vítima no pronto socorro do hospital, já depois de um tempo sem que ninguém lhe desse atendimento, apareceu uma enfermeira médica negra que orientou o Sr. Assis para que fosse para casa e não se preocupasse mais, pois a vítima estaria bem e logo voltaria para casa. Apurou-se com muita atenção, que no pronto socorro e, mesmo em todo o Hospital Regional não havia nenhuma médica negra. Seria a Nossa Senhora Aparecida??????
Passado alguns dias do encontro da Sra. Georgina com o Geraldo, esta queria saber, de qualquer forma, toda a história que o Geraldo vivera. Ele, de forma nenhuma queria lhe contar, pois revivê-la seria sofrer o mesmo drama duas vezes. Assim pensara. Não queria. Então, a Sra. Georgina teria que descobrir um outro jeito de conhecer a história. Acabou descobrindo o Sr. Assis que era o conhecido mais próximo do Geraldo. Este lhe contou a história completa vivida pelo seu amigo. A Sra. Georgina pedia para interromper a história várias vezes, para que pudesse se recompor do trauma que estava passando em ouvir o doloroso drama. Depois de conhecer todo o sofrimento que impusera ao Geraldo e sua família, sua vida passou a ser um rio de lágrimas. Seus negócios continuavam a todo vapor nas mãos de seus assistentes, mas a sua vida começara a ficar sombria na mesma velocidade dos negócios. O encontro que tivera com o Geraldo selara a sua etapa final de vida. Agora era questão de pouco tempo. Não suportava o peso de carregar tanta culpa. Fora orientada por psicólogos assistentes seus a fazer uma compensação ao Geraldo para diminuir o teor do seu drama. Assim o fez!  Não adiantou. O sentimento de culpa era irreversível. Mesmo sendo ela, a senhora de todos os negócios, consultara os assessores mais próximos sobre o passo que ia dar: Decidira doar, em vida, ao Geraldo, como compensação pelo mal que causara, a sua suntuosa fazenda no interior do estado. Não encontrou oposição e assim o fizera. 

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Aqui, temos o encontro de duas formas de agir e pensar. Enquanto a Sra. Georgina passou a vida toda acumulando tesouros materiais, onde mantinha uma família curta com pouco amor em um espaço amplo, o Geraldo passou a sua vidinha  com tesouros espirituais e, uma família longa com muito amor em um espaço apertado. Este recusava, terminantemente  a receber qualquer coisa como compensação, não por orgulho, mas por convicção na sua vida não material. Só aceitou por insistência de todos os que conhecera. Impôs uma condição para o aceite: Criar na fazenda, uma associação de amparo e cuidados a pessoas carentes. Houve concordância geral. E, assim foi feito.
A Sra. Georgina, enquanto em vida, procurou regulamentar todas as suas decisões onde tudo foi acatado por todos. Sua saúde não apresentava progressos no sentido da extensão da vida e preocupava a todos. Estava ali, agora em agonia, uma pessoa profundamente arrependida das ações que praticara com os olhos da alma repletos de cataratas. Seus pés sangravam juntos com toda a alma, como consequência da semeadura de espinhos e vidros afiados que fizera em sua própria trajetória de vida. Agora, no retorno para casa tinha de purificar-se para ter o seu pedido de perdão aceito por Deus.
Numa tarde com um  lindo por de sol vislumbrado da janela de vidro da sua casa, recorreu a sua assistente mais próxima para trazer a sua presença, o quanto mais rápido possível, o Geraldo, agora o seu afeiçoado para um rápido colóquio. Meia hora se passou e o Geraldo chegou. Aquela criatura simples e envergonhada de tudo, andou mansa e macio sobre o tapete que lhe afogava os pés,  entre estátuas e obras de arte da mansão até encontrar a  Sra. Georgina a sua espera ao lado da janela. Ela com olhar doce de quem tinha um pedido a fazer, pediu que este aproximasse seu ouvido para que lhe murmurasse alguma coisa. Murmurinhou no seu ouvido:      Me perdoe! Me perdoe! Me perdoe! Fechou os olhos e serenamente partiu. A tarde se fechou e o sol se apagou.
O orgulho e a repulsa deram lugar, agora, à humildade e a afeição. Ela era pequena. Agora é grande.

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Quarenta anos se passaram desde aqueles  trágicos dias ainda relembrados com muito pesar. Os partícipes responsáveis por todo aquele drama doloroso e cruel não existem mais. A Fazenda que era da Sra. Georgina ainda existe e continua suntuosa, só que está muito mudada. Tem um belo bosque logo depois da entrada onde nada havia antes. O bosque plantado pelo Geraldo é formado por árvores frutíferas e muitas outras nativas, baixas e altas. É um berçário de uma numerosa passarinhada e, também um dormitório agitado de aves que pelo final da madrugada promovem um belíssimo espetáculo de revoada antes de partirem, todas, em direção aos extensos campos plantados.
Parte da fazenda hoje é o local de uma fundação que dá abrigo e amparo a pessoas carentes e necessitadas. É presidida pela honorável Sra. Gabrielle Burnier, filha da falecida e inesquecível Sra. Georgina. É administrada por aqueles que sobraram da família do Geraldo, que junto com esta, formam uma linda e numerosa família. 
Este memorável e doce ser humano já está velhinho. Mantém um virtuoso hábito matinal, nunca interrompido: Todos os dias de manhã cedinho, vai até uma capelinha ao lado do portão da entrada fazer uma prece à Nossa Senhora Aparecida. Nunca perdeu a sua fé, continuando com a crença fervorosa a sua Adorável Santa até os dias atuais.
Esta história é toda baseada em fatos reais. Os protagonistas da mesma existiram, sendo que seus verdadeiros nomes foram substituídos para que pudessem ter suas genuínas identidades preservadas. Os locais onde tudo aconteceu não são revelados para que não sejam frutos de especulações e nem de romarias desnecessárias.
Grande parte do teor deste relato teve de ser omitido por expor em demasia, muito sofrimento e crueldade. No entanto, suas causas tiveram que ser reveladas por guardar muita similaridade com ações de muita crueldade que continuam a serem praticadas por uma raça, que nos dias de hoje,  se diz “civilizada”. 

Pi-Nath

Poema

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Se você não pode ser o sol, seja um planeta.
Se você não pode ser um planeta, seja um cometa.
Se você não pode ser um cometa, seja uma estrela cadente.
Se você não pode ser uma estrela cadente, seja um rei/uma rainha.
Se você não pode ser um rei/uma rainha, seja um presidente. 
Se você não pode ser um presidente, seja uma pessoa qualquer.
Se você não quer ser uma pessoa qualquer, seja um carteiro.
Se você não quer ser um carteiro, seja uma pessoa comum, assim como um carteiro.
Mas, ao invés de cartas a serem distribuídas, distribua  a fragrância do “Amor”, a essência da “Compaixão”, o olor da “Caridade”,  e abraços de “Fraternidade”.
“Assim sendo, serás maior que o sol e, maior do que tudo aquilo que for maior que o sol”.

Pi-Nath

Quando a sonda cassini, entre os anéis de saturno, vislumbrou lá longe, aquele pequeninho pontinho perdido no universo escuro, definido como a Terra, nos norteou que ali não é “Eu”, “Você” e, “Eles”.

Ali somos “NÓS” que deveríamos viver só na essência do “AMOR”.

Pi-Nath

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