Apresentação.

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Boa noite a todos os presentes. Senhoras e Senhores, sejam todos bem vindos.

Peço a permissão de vocês para fazer uma breve apresentação do propósito desta nossa iniciativa.

O que nos moveu em direção a este trabalho tem a haver com a observação de um fato  ocorrido aqui mesmo em nossa cidade.

O que tem se passado quase despercebido, talvez até mesmo em todo o Brasil, é um crescimento acelerado do número de drogarias e farmácias. Isto oculta uma indagação. A pergunta camuflada é porquê isto está acontecendo. Há duas respostas, sendo que vamos abordar de forma breve apenas uma delas. Há uma suspeita de que isto se deve ao fato da existência de vários tipos de doenças que estão acometendo, silenciosamente, de forma acentuada, adultos e pessoas da 3ª idade. Doenças essas originadas do comportamento ligado ao estado psicológico, o emocional  destas pessoas nestas fases da vida. Daí este mercado estar em franca expansão. A OMS juntamente com os profissionais das áreas do campo comportamental têm dado ênfase, de forma pertinente, da necessidade destas pessoas terem uma assistência no sentido de se reduzir o stress emocional, o estado depressivo e psicológico provocado pela sequência repetitiva dos acontecimentos do dia a dia. Isto está provocando uma baixa de proteção no sistema imunológico destas pessoas, fragilizando-as e, tornando-as susceptíveis a todo tipo de doenças, chegando até a agravar aquelas pré-existentes. São empurradas, desta forma, à busca de lenitivos para reduzir os efeitos nocivos destes agravamentos. Esta é uma das justificativas do acentuado números de farmácias e drogarias por toda parte para atender a demanda.  Faz-se necessário, portanto, uma fórmula de quebra desta sequência danosa do dia a dia para um alívio a estas pessoas. Mas como fazer isto?    

A sugestão é a seguinte com uma ideia bem plausível: Fazer as pessoas saírem de suas casas uma vez por semana   em um determinado horário, preenchendo suas mentes com algo novo de forma motivacional. Proporcionar momentos de engraçamento e de encantamento é o objetivo do nosso projeto. Isto é uma modalidade de qualidade de vida

A ideia para pôr em prática este nosso trabalho é utilizar espaços públicos reservados, para apresentação destas oficinas literárias. As áreas dos pátios das escolas públicas, teatros e outros locais seriam ideais para esta propositura. No caso das escolas faríamos anúncios a todas as pessoas da redondeza, num raio de 700 metros, facilitando desta forma  o acesso de todas ao evento sem maiores dificuldades.

Temos aí na entrada, dois exemplares de uma arca artesanal, por enquanto de forma decorativa, porém com uma finalidade social mais adiante. Vamos convidar as pessoas que tiverem interesse em conhecer as nossas oficinas literárias, que tragam de forma espontânea, voluntária   um tipo qualquer de alimento não perecível para que, em um final de período possamos montar cestas básicas de alimentos para pessoas que se encontram em dificuldades com insegurança alimentar, na periferia da cidade. Este é o conteúdo do nosso projeto que gostaríamos de levar adiante.

O Voo da Andorinha.

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Ainda fazendo referência às Arcas na entrada, vamos relembrar algo que era comum tempos atrás e gostoso de ouvir.

Há uma história que permanece viva no consciente de muitas pessoas e que carrega uma mensagem bem substanciada em uma notável passagem onde se desagua inteligentemente em um final bem harmonizado no contexto da existência humana. (*) Esta história começa assim: Numa floresta densa que dava abrigo e subsistência a um número grande de animais houve um grande incêndio que ameaçava consumir tudo o que existia na vasta redondeza. Era uma época de verão muito quente com uma extensa escassez de chuva. Com a chegada do fogo, os pobres animais pegos de surpresa corriam em pânico para todos os lados buscando lugares onde pudessem sobreviver às trepidantes labaredas que consumiam tudo por onde passavam. Na floresta havia um rio de leito seco que ainda mantinha água formando um pequeno lago que serviu de abrigo para os animais que procuravam desesperadamente se abrigar do fogo que envolvia tudo. Na margem rasa das águas, um grupo de animais encontrou segurança para a sua sobrevivência. Um dos animais ali presente notou que uma ANDORINHA mergulhava na água de vez em quando e saia voando em direção ao fogo levando no seu pequeno bico uma gotinha d’água e a atirava no meio do fogo. Voltava para o mesmo local das águas do lago e fazia a mesma coisa, levando a gotinha d’água, jogando-a no meio do fogo com muita determinação. Depois de repetir este gesto por várias vezes um dos animais ali presente falou o seguinte: Dona ANDORINHA! Não adiante nada fazer o que estais fazendo, pois você nunca vai conseguir apagar este incêndio enorme jogando uma gotinha d’água. A ANDORINHA respondeu passivamente: Eu sei disso. Estou, porém, fazendo a minha parte.

Esta resposta curta tem um significado muito profundo que transcende, de longe, as especulações que envolvem assuntos de baixa grandeza. A curta resposta da andorinha carece de um conteúdo complementar mais elaborado.

Estamos diante de um entendimento que requer  uma melhor abrangência para que nos inundemos da preciosidade que é estarmos conectados com a essência capaz de transformar nossos corações em magnanimidade. Transcendamos, portanto, à resposta contundente da andorinha para o ambiente humano onde de fato nos posicionamos.

O nosso trabalho nos coloca numa posição frontal com o drama do flagelo da fome que está presente em toda parte do mundo. Somos, portanto, a andorinha que no seu gesto de pequenez contribui para a ação de confraternidade que nos coloca na posição de grandiosidade. Compartilhamos da dor humana e escolhemos, conscientemente, uma maneira de fazê-lo através das nossas ações de levantar meios para atenuar a fome de pessoas que passam necessidades alimentícias.

O distanciamento voluntário daqueles que se afastam deste flagelo no mundo, retrata a indiferença e o egoísmo próprio dos que se pautam na fartura onde, de certa forma, próximos ou distantes, são responsáveis por dramas como este em toda parte do mundo. Há entre muitos, aqueles que se postulam na elevação cujo pedestal se acha revestido de ouro, prata, bronze e pedras preciosas. Nestes indivíduos, pensamentos em resiliência e compassividade não fazem parte da cartilha de ascensão. Pois se assim o for não há lugar para compartilhamentos. Há, entretanto, um outro grupo que age com consciência e compassividade, pois é neste onde há grandeza, ascensão e confraternidade que o olhar de Deus está voltado.

Caro(a) amigo(a), nunca dê as costas a uma ação focada no Bem qualquer que seja ela. Dê a sua parcela procurando aliviar o sofrimento de tantos dos nossos irmãos nesta breve jornada humana. Ao fazer esta escolha, um dia você vai descobrir que tomou a decisão acertada e se regozijará. Não seja uma semente do universo das criaturas minúsculas. Seja grande. Aja com altivez. Algo verdadeiramente grandioso e belo estará lhe aguardando, um dia. “Tudo aquilo que fizerdes para o próximo voltará para você da mesma forma multiplicado “.

Liberte a Andorinha que está presa em você.

Não dê as costas a uma Ação focada no Bem qualquer que seja ela. Faça a sua parte.

Doe.

Assim você estará proporcionando um pouco de conforto e alegria a alguma pessoa.

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Aqui, baixar o cenário da trilha com o banco

Observação

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Esta nossa oficina literária se assemelha ao que ocorre em  um espaço teatral, mas não é um teatro, pois não temos atores, atrizes e  nem tampouco figurantes. Temos apenas um cenário de uma trilha de caminhada com um velho banco de madeira. Neste espaço poderia estar sendo apresentada uma peça teatral famosa, a apresentação de um pianista, uma diva lírica, um tenor, um soprano, um quinteto de cordas ou de violinos, uma orquestra de sopro, uma outra sinfônica, uma banda como a Tuba Skinny e assim por diante. Mas, temos apenas um velho banco de madeira como o protagonista principal que vai fazer o papel de todo um elenco em um cenário simples. Esquisito, não? Bem, vamos dar uma oportunidade ao velho banco de madeira. Quem sabe ele não pode nos proporcionar uma surpresa!

Os Escritos Motivacionais desta oficina literária falam diretamente à alma. Não tocam apenas o intelecto, ressoam em um nível mais profundo, fazendo a pessoa parar e reconsiderar à sua maneira de ver o mundo. Todas as pessoas ficarão por muito tempo pensando nestas palavras depois de ouvi-las. Certamente retornarão para ouvir o que outros textos motivacionais terão para dizer.  Obrigado!

Memórias de um velho banco de madeira

Prólogo

“O coração humano anseia por conforto alcançado somente através de enlevos e lenitivos”.

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Nossas vidas estão sedimentadas em questões onde  a modernidade assume todo o comando de nossa existência com uma multiplicidade de opções que está produzindo, em muitos de nós, um estado apreensivo que se acentua cada vez mais.

Estamos vivendo em uma época na qual o nosso primeiro contato com o mundo se dá através das telas do celular, do tablete, do computador e da televisão. Muitos não se deram conta ainda de que estamos sendo todos subjugados aos interesses de quem comanda o mundo. As imagens e os textos que vemos e lemos através destes aparatos modernos mostram sempre o que devemos fazer em termos de decisões. (*) Somos convidados, muitas vezes a nossa contra vontade, a nos decidirmos sobre o alimento que devemos consumir, ao sabonete que devemos usar, a bebida que devemos tomar, a viagem que devemos fazer, a escola na qual colocar os  nossos filhos para estudar e por aí a fora. Não é permitido anunciar, de forma clara, nestes meios de comunicações, que estamos ficando cada vez mais doentes diante de um mundo que nos apressa em fazer tudo ao mesmo tempo. Pesquisas realizadas em todo o mundo mostram que os níveis de stress, de depressão  e de infelicidade estão cada vez mais acentuados e que ceifa, juntamente com os outros males provindos destes, mais e mais vidas preciosas em todo o mundo. Estamos presos a estes domínios sem podermos fazer muita coisa. Quase não temos como questionar as ações que nos são impostas a todos os instantes. Somos todos protagonistas da peça teatral da vida cujo roteiro nos é imposto atualmente pelos meios de comunicações. Se procurarmos observar e sentir, veremos que somos prisioneiros dos interesses daqueles que regem o mundo e que têm o comando dos universos político, religioso, econômico e social. As amarras e as correntes que nos mantém atados a este quadrante deixam marcas, cicatrizes e feridas em nossas vidas.

Quando criança, tínhamos o nosso próprio domínio sobre as nossas decisões e emoções sem que o mundo interferisse. Hoje, as nossas emoções e decisões são de domínio destes grupos que mandam no mundo. Choramos quando eles nos mostram como e quando chorar. Sorrimos como e quando querem que esbocemos sorrisos. Consumimos como e quando querem que consumamos. Somos o que eles querem que sejamos. Não podemos ser e ter o que os nossos corações querem ser e querem ter. Será que não podemos ter o domínio do nosso querer original?  Podemos e temos o direito. Já estamos completamente dominados e viciados nisso que se chama vida moderna. Vamos deixar de lado, sempre que pudermos, esta modernidade e vamos nos concentrar em algo que alivie o nosso sufoco. Temos muito poucas opções. Uma delas é o refúgio no néctar da nossa própria origem. O que o nosso Eu sempre procurou:  LIBERDADE e PAZ.

Estão se escasseando os lenitivos e os alívios a nos confortar. Para onde quer que olhemos lá estão os convites para o egoísmo, os apegos descontrolados, as vaidades e os desmandos copiosos. O império dos estados aflitivos prolifera pelo mundo afora e só têm aumentado. Tornamo-nos todos escravos dos nossos próprios egos. Restam-nos muito pouco. Peguemo-nos, portanto, a este pouco que nos resta, pois ainda temos alguma chance face às escassas  belezas que ainda há no seio da espécie humana.

Se soubermos procurar ainda encontraremos consolo nas iniciativas de parte da humanidade.

Abaixo, uma dessas notáveis  ações criativas, cheias de beleza e leveza para o coração humano. Há um encantamento em cada ato e nas narrativas que se seguirão, mesmo em mares tempestuosos, encontraremos um lugar para ancorar o nosso frágil barco da vida em águas serenas.

Façamos, pois, junto comigo, esta viagem surpreendente. Não precisa apertar os cintos e, nem colocar coletes salva-vidas. A jornada é segura. 

Memórias de um velho banco de madeira.

Criação: Pi-Nath(JML)

“Eu sou o guardião da vida.  Como mágico, eu vos concedo a vida para que possas vivê-la plenamente.”

Assim terminara, naquele sábado de manhã, o ensaio daquele senhor que logo mais iria se apresentar no papel de um personagem mágico na peça teatral da qual participara todos os anos por ocasião do encerramento do ano letivo na escola de crianças com deficiências localizada no bairro onde morava. Dentre as tarefas dos voluntários, esta do mágico era a mais aguardada com ansiedade. Na peça, o mago tocava as pedras com a sua varinha mágica transformando-as em seres humanos que, a partir daí, passariam a conviver como criaturas vivas junto a todos eles.

Terminado o ensaio, o senhor levantou-se do velho banco de madeira onde se sentara por alguns minutos para descansar e refletir. Este era o seu local preferido para um break todas as vezes quando fazia a sua caminhada diária por esta trilha no bosque do parque da sua cidade. Já descansado, continuou com a sua jornada do dia.   Esquecera por entre as travessas de madeira do velho banco a sua principal ferramenta de apresentação que na peça teatral seria a sua varinha mágica. Começara aí, a verdadeira peça do inusitado teatro humano. Um extraordinário acontecimento.

Cinco dias antes, este senhor conhecido apenas como o Sr. Jorge,  o homem da varinha mágica, acordou sob o som das badaladas do sino da igreja perto de onde morava. Eram 6:00hs da manhã de uma segunda-feira quando iniciara a sua caminhada diária. Logo em seguida, na mesma manhã, teria de passar na lojinha de um amigo seu para  retirar uma dúzia de varinha de ébano da Índia que encomendara dias atrás.

Era o seu estoque de varinhas para o seu papel de mágico, uma das suas atribuições em escolas e pequenos teatros. Precisava de muitas dessas varinhas, pois tinha o hábito de perder uma aqui, outra ali, e assim, tinha que ter reservas para o seu trabalho.

Era uma figura respeitável e querida por todos os moradores do bairro. Tinha uma missão social admirável e praticava caridade com o coração. Tinha muita coisa boa para oferecer ao mundo.

A única varinha verdadeiramente mágica deste conto foi a que tocou o autor deste belíssimo trabalho iluminando-o em todos os instantes. Este toque veio dos Altos como uma Dádiva Abençoada. As demais varinhas faziam parte do corpo das fantasias que encantavam as crianças por onde ele passava. Mas… Algo maravilhoso e surpreendentemente  belo e estonteante estava começando a acontecer. Vejamos, pois, o que aconteceu com a varinha esquecida entre as travessas do velho banco de madeira: 

O despertar:

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Não sei se foi o efeito desta varinha mágica esquecida aqui ou se foi o desejo de alguma entidade que me pregou esta peça estranha planejando uma série de acontecimentos, cujo propósito eu desconheço. O que sei, de imediato, é que me sinto meio atordoado como que acordado de um longo sono. Assim despertou o velho banco de madeira que acabara de receber consciência. A varinha ali esquecida provocou o despertar. 

A sua primeira reação foi de surpresa e o atordoamento dissipou-se rapidamente face à pressa em se inteirar dos acontecimentos do mundo. Mundo esse, estranho na sua atuação  inicial como um velho banco de madeira no qual lhe fora imputado  consciência.

(*) Fui postado aqui ao lado desta trilha de caminhada por onde passa tanta gente diariamente, para servir de ponto de parada a todos aqueles que decidem parar para descansar um pouco, visto haver aqui em frente uma linda paisagem que cativa a todos aqueles que por aqui passam.

Dias, semanas,  meses e anos se passaram desde então e…

Repetindo, desde então, todo aquele que vem por este lado a passeio ou praticando caminhada e se senta neste velho banco deixa impresso nele, instantaneamente, suas memórias e todo o seu histórico de vida completo desde o seu nascimento até o instante em que se levanta do assento. Eu os absorvo tudo em detalhes e sem que ninguém perceba passo a ser, silenciosamente, o seu confidente. Não me incomodo de eu mesmo me definir como um velho banco, pois nesta altura não sei se sou velho ou se é este mundo conturbado um velho mais velho do que eu.

Passei também a experienciar e ter o gosto doce e amargo de todas as emoções, ações  e os sentimentos humanos. Isto me surpreende e me chateia, deixando-me confuso e cheio de expectativas. Envolvo-me em alegrias e tristezas frequentemente tamanha é a variedade destes acontecidos. Passei a testemunhar a todo instante fatos interessantes, intrigantes, chocantes e desconcertantes  em belezas.

Como estou em uma trilha de caminhada diante de um cenário cativante passo a referenciar também, através de outras trilhas de caminhada, todo o histórico de vida e memórias daqueles que por aqui passam e se sentam neste velho banco de madeira. É um presente que me foi concedido sem que eu tenha a menor oportunidade de me expressar e me manifestar. Só posso ver, ouvir,  sentir e armazenar memórias, nada mais me é permitido.

No campo das manifestações de sentimentos pessoais, testemunhei aqui juras de amor eterno que nunca foram além de uns poucos minutos. Promessas de fidelidade nunca cumpridas. Propostas indecentes de todos os tipos. Conversas e mais conversas sobre posses de bens materiais. Planos e projetos de enriquecimento, muitas vezes ilícitos, todo tipo de banalidades e vulgaridades.

Por aqui passaram pessoas de muito conhecimento e pouquíssimo relacionamento. Passaram também pessoas de pouco conhecimento e muito relacionamento. Passaram pessoas que conhecem muito sobre o espaço exterior e nada sabem sobre o seu interior. Passaram pessoas que possuem casas amplas e luxuosas com pouca família e lares desfeitos por falta de amor. Passaram aqueles que moram em casebres simples e frágeis barracos de madeira com famílias numerosas e muito amor.

Por aqui passaram muitos anjos que convivem com humanos. Trabalham como médicos, escritores, artistas, atores, bombeiros, lixeiros, doutores, religiosos, carpinteiros e muitos outros. Passaram também pessoas especiais, mensageiros e parceiros dos anjos que visitam hospitais, asilos, casas de saúde e orfanatos levando luz e força aos que necessitam de ajuda, amparo e conforto. Estes são os que se sacrificam pela humanidade. 

São estas criaturas que despercebidamente trabalham para promover a vida, melhorando-a em cumprimento à uma Ordem Maior.

Passaram também outros anjos. Tenho registro de pessoas do bem com mentes e planos do bem para produzir o bem, para ajudar a construir o mundo e torná-lo melhor para todos. Estes são pouquíssimos, valendo a pena conhecê-los e apreciá-los, pois são portadores de paz e neles residem as esperanças de um mundo melhor.

Passaram outros aqui só para promover o mal, tumultuar o mundo e, torná-lo ruim para todos. Estes constituem uma parcela bem considerável. Estão aqui por toda parte. São silenciosos, às vezes, mas mortíferos nas suas ações. Estão disseminados em toda parte.

Passaram também demônios travestidos de anjos e profetas que, com suas feições bonitas e palavras sedutoras, arrebatam multidões, prometendo fama, fortuna e até milagres nunca realizados.  Prometem purificar a alma, mas na realidade a contaminam por inteiro.

Conheci muitas pessoas que se venderam ao diabo com muita facilidade e, outras poucas que não estiveram à venda por nenhum tesouro da terra. Sentaram neste velho banco, mentirosos, corruptos e corruptores, sendo que  vários meios sociais  estão inundados deles. Pedófilos, criminosos, traficantes de pessoas e malfeitores também passaram por aqui.  Suas aparências às vezes não consegue esconder as más intenções. Sedução é a arma que muito dessa gente usa para conseguir o possível e o quase impossível.

Marcaram presença, também, aqui neste assento de madeira, traficantes, viciados em drogas, aqueles que estão sempre praticando violência contra as mulheres e crianças, sem deixar de incluir aqueles outros envolvidos em discriminação social, religiosa, racial e sexual.

Uma parcela considerável de todos os que por aqui passaram tem uma bagagem material muito grande. Um fardo pesado demais para ser carregado. Têm como objetivo de vida posses e mais posses. O orgulho, a vaidade, a ganância e o egoísmo para essas pessoas são itens indispensáveis para a sua indumentária de vida. Caráter, honra, valores morais e integridade foram marginalizados.

Notei que é pouquíssima a bagagem espiritual daqueles que passaram por aqui. Para estes não há espaço para o universo espiritual. A humanidade está quase toda degenerada e vivendo sob o domínio da violência desenfreada, de guerras sem sentido e de todo tipo de subjugo. Os valores humanos estão muito mudados. E, o que vale hoje é está na crista da onda como se diz no jargão popular. Não importa a que preço.

O espaço de vida, hoje, é ocupado pelo materialismo cego e pelo consumismo desenfreado. O espaço espiritual é pequeno e quando há espaço este está muito apertado entre os afazeres materiais. As pessoas se preocupam apenas com as coisas terrenas e, são privadas de sua dimensão espiritual, do seu papel missionário na vida.

Muitos sabem que estão aqui só de passagem, mas querem desfrutar do mundo material o máximo possível. Para estas pessoas, o panteon dos seus avatares está repleto de falsidades. Elas não sabem que outros mundos virão e que seus deuses mentem o tempo todo. Trocaram o tesouro espiritual pelo investimento material fugaz, aquele que vai e vem conforme o momento.

Conheci pessoas duronas com o  coração de pedra. Cruéis, arrogantes e prepotentes. Para estas pessoas o futuro é sombrio e tenebroso. Mas também conheci pessoas sensíveis com o coração de ouro colocadas  no patamar de tesouros vivos. São estas últimas que dão equilíbrio, uma certa harmonia e, um toque especial ao mundo. Seduziram-me e me fizeram pensar: 

Aqui, baixar a tela branca

Se, apenas os seres humanos, entre todas as criaturas vivas da terra têm a capacidade de parar, promover uma boa ação, um gesto nobre, contemplar e externar a sua admiração por uma paisagem tão bela como esta e, muitas outras pelo mundo afora, é porque foram orientadas a isso por Algo Superior que assim se manifesta.

Nenhuma outra criatura viva deste mundo ao ouvir uma bela partitura musical, a declamação de um belo poema, um bom filme, uma peça teatral ou uma outra ação sensível, é capaz de se emocionar e chorar. Apenas o ser humano é capaz disso. Por que ?

É a alma humana! Essa extraordinária dádiva dos Altos! Esta magnífica extensão de Deus aqui na terra em cada um de nós. Esta é a resposta.

Certo dia, alguém falando sobre anjos, disse que eles se tornam muito sensíveis ao sofrimento humano e que isso é parte da missão deles aqui na terra, bem como da redenção de alguns.

Não sou anjo nem humano. Sou apenas um velho banco de madeira que por alguma razão recebeu uma consciência onde passei a absorver a alma de anjos e humanos.

Nem tudo que vi,  ouvi e senti está contaminado por maldade e crueldade. Há ainda muita beleza no seio da espécie humana. Há um vasto tesouro ambulante por ai a fora contido de forma adormecido e sedado no interior de muitas pessoas. Estes tesouros serão  revelados no instante em que seus portadores passem por aqui e se sentem neste velho banco de madeira. Estas memórias serão reverenciadas, enaltecidas e se constituirão em sementes valiosas a serem cultivadas em forma de luzes nos corações humanos.  Isto é o que faz a vida humana valer a pena. Há uma Ordem Superior sobre tudo.  Continuarei como fui criado. Sou simplesmente um Velho Banco de Madeira. Das memórias que tenho acumuladas ao longo de tanto tempo, só tenho permissão para relatar com detalhes as que contém algo de bom para a espécie humana, aquelas que levarão  através de enlevos e lenitivos, engrandecimento e  conforto para o coração humano. Somente os extratos que se constituem em elementos motivacionais de grande valia serão trazidos à tona, pois da mesma forma que os humanos ainda presos na redoma que lhes concede evolução cognitiva limitada por uma Razão Superior, eu como um objeto físico que recebi a dádiva da consciência, também tenho limitações impostas por essa Razão Superior. Tenho que ser obediente para poder dar a minha contribuição para a evolução humana. Serei fiel a este princípio para ajudar no despertar e no crescimento de todos. 

Recolher a tela branca

Memórias de um velho banco de madeira

Cosmovisão – Um abrir de cortinas – Uma visão Maravilhosa.

Cosmovisão

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“O coração humano anseia por conforto alcançado somente através de enlevos e lenitivos”.

Este velho banco de madeira desde o instante em que recebeu o poder da consciência tem estado abarrotado de conteúdos memoriais de todos os tipos. Memórias   de como o relacionamento entre entidades da família humana   se processam expondo divergências de pontos de vistas sobre questões da dinâmica do dia a dia, de tudo e de todos. Anagógicos envolvendo temas entrelaçados exclusivamente  com o funcionamento do universo humano envolvendo o banal, o social, o empresarial, o religioso e o político onde o topo geralmente se estampa pomposamente desaguando  em ostentações e poderes terrenos.

(*)Tudo se relaciona convulsiva e conturbadamente dentro do mundo materialista humano. Pouquíssimos são os enunciados sob o manto da espiritualidade que tanto deveria ser parte integrante do convívio humano. São raríssimas  as pessoas que passam por esta trilha de caminhada e se sentam neste banco deixando memorias carregadas  de belezas capazes de produzir encantamentos profundos. Quase todas as bagagens deixadas aqui estão carregadas de vulgaridades e de trivialidades. Mas algo de grande relevância aconteceu recentemente para minha surpresa: Um senhor de uma certa idade, porém  de uma aparência bem revigorante acompanhado de uma  jovem senhora de uma bela e esbelta aparência aqui se sentaram e, imediatamente percebi o quanto é valioso ser portador de uma compostura tão cheia de dignidade. Deve ser uma criatura de um outro mundo na imagem de um ser humano comum. Fui tocado profundamente pelo conteúdo sensível e carregado de compassividade que se escondia sob o seu porte físico. Num certo instante, no meio da conversa amigável entre os dois, ele muito educado e visivelmente bem equilibrado falou o seguinte para a sua acompanhante: –  Elizabeth! Eu vou torcer muito para que você encontre um companheiro mais jovem e bem digno da sua pessoa para seguirem  juntos na sua trajetória de vida. Ele continuou: Junto comigo, apesar do seu amor, vai ser muito difícil você lidar comigo, pois a minha compreensão sobre a vida e sobre o mundo é muito diferente do comum. – Ela insistiu pedindo que ele discernisse com mais clareza como ele é realmente. Meia hora se passou e ela nesse tempo se postou passivamente em silêncio, só ouvindo atentamente. De repente  desabou uma cascata de lágrimas  inundando toda a sua face bem talhada e rosada. Estava tremendamente chocada diante do que ouvira silenciosamente. Passados alguns minutos, ambos se levantaram do banco e o ciclo de memórias se interrompeu. Permaneceram em pé por alguns instantes olhando-se mutualmente num tom de suavidade quando ela falou o seguinte:  Nada do que você me contou seria um empecilho para eu deixar de te amar. Nem estes motivos e nem qualquer um outro me faria deixar de te amar eternamente. Uma declaração de amor contundente e muito forte. Partiram um ao lado do outro na mais digna compostura de respeito e se afastaram. Mais adiante pararam na mesma trilha  por um breve momento e ele pegou na mão dela entrelaçando os dedos de ambas as mãos e foram embora. Quem ficou em dificuldade em se recompor fui eu, um velho banco de madeira que teve a sua estrutura física toda estremecida com um encontro dessa natureza e uma fascinante revelação. Um conjunto de memórias maravilhosas.

Vamos conhecer juntos esta extraordinária  pessoa que faz parte do universo humano. Uma raridade! Precisa ser conhecida.

Cabe somente a mim anatomizar em detalhes tudo aquilo que ficou camuflado em poucas palavras  e em um tão restrito espaço de tempo. Cada pessoa que ao sentar-se neste banco de madeira deixa impresso nele todo o seu histórico de vida, apenas os extratos de relevância, aqueles que contribuem para melhorar o mundo, estes são os revelados.

Convém destacar aqui  um detalhe que parece ser uma revelação de autenticidade da existência do destino. Este casal, ele conhecido como o Juiz Millus um magistrado da cidade e ela,  Elizabeth uma moça  da sociedade local, uma escritora romancista. Ambos se encontraram recentemente pela primeira vez por ocasião da abertura de um Festival Literário na cidade. Neste evento foram realizadas várias atividades entre estas uma teatral e uma outra de revelações  quiromânticas. Nesta última as pessoas presentes tiveram conhecimento dos significados dos sinais em suas mãos. Aqui foi revelado para todos os presentes a existência de duas pessoas no local com os mesmo sinais em ambas suas mãos, Juiz Millus e a jovem Elizabeth. Isto foi uma surpresa para os apresentadores quiromânticos e para o público presente, pois segundo esta ciência de fronteira, quem têm estes sinais nas mãos são portadores de elevadas missões altruístas e de cunho espiritual e, não podem fugir delas. É algo muito raro. Isto foi um choque para todos especialmente para o Juiz Millus e a  jovem Elizabeth que não se conheciam e não tinham conhecimento deste fato. Nesta primeira ocasião a jovem Elizabeth foi contaminada profundamente por um sentimento de admiração pelo Juiz Millus, uma espécie de um amor avassalador à primeira vista. O segundo encontro de ambos se deu de forma planejada na trilha do parque da cidade onde chegaram a se sentar neste  velho banco de madeira. Ai eu pude absorver o histórico de vida de ambos, uma surpresa maravilhosa para mim. Percebi o quanto foi profunda e sincera a declaração de amor da jovem Elizabeth pelo Juiz Millus e o quanto foi profundo e sincero o ato de orientação do Juiz Millus. Um casal raro. Ele poderia ter tirado proveito da situação, mas não o fez. Não o fez porque tinha dignidade e era um homem de  caráter. Um ser certamente de um outro mundo. 

A Elizabeth depois que ouviu o relato do Juiz Millus chegando ao ponto de  chorar copiosamente teve um motivo  consistente e bem substanciado. Estava ela ali, diante de uma pessoa de extrema raridade. Não  cometeu nenhum erro e não se precipitou ao fazer a sua comovente e ardente declaração de amor. Ela era um tesouro de conteúdos elevados de grande beleza. Houve uma razão bem forte que vamos conhecer agora.

O extrato memorial do Juiz Millus  vai abranger apenas os seus últimos cinco anos até o instante em que esteve aqui na companhia de jovem Elizabeth. A pergunta que fica no ar neste momento é o que poderia ter dado tanta excepcionalidade a este senhor! 

No período anterior à abertura desta narrativa o Juiz Millus desempenhou a sua função de magistrado de uma forma marcante seguindo a risca a sua potencialidade passivista. No ato do desempenho das ações de  julgamentos levou sempre em consideração não a falta cometida, que tenha sido esta leve,  grave ou muito grave, mas o histórico de vida dos seus réus, a sua relação com a sociedade, sua situação social ou o seu caráter patriótico. Agiu sempre com misericórdia deixando como legado sua postura de bondoso. Não transgrediu jamais o que dita a lei, mas foi impecavelmente  justo, bem justo. Por essa razão passou a ser muito querido. 

Nos dias atuais não é mais um juiz ativo, pois já está aposentado, porém  leva uma vida movimentada  em um outro extremo de profissão. Comprou um belo sítio no interior do estado, uma pequena fazenda, e está realizando com muito entusiasmo o seu sonho de vida. Ser um fazendeiro. Um fazendeiro bem diferente. Ele é uma criatura muito sensível com a vida, independente de ser esta,  humana ou animal. A sua diferença dos homens comuns é que a vida animal é a que lhe dá sustentação motivacional, é a que lhe dá alegria e a que lhe faz feliz. A sua pequena fazenda foi preparada para dar suporte à vida animal à altura de quem está na vanguarda daqueles que  pretendem  se eternizar preservando a vida com muito amor. O seu primeiro gesto em dar início a esta missão aconteceu da seguinte forma: Um certo dia saiu com o seu carro para conhecer as cercanias da sua propriedade, quando um pouco afastado do seu local se deparou com uma situação que o fez parar para ver o que estava acontecendo: Um grupo de seis homens tentava levar para uma parte mais alta de um barranco,  um enorme porco que gritava desesperado, pois estava sendo arrastado com uma corda amarrada no pescoço em direção a um matadouro debaixo de uma árvore. O animal fazia um esforço enorme para não subir o barranco, pois parecia saber que ali seria o seu fim. Os homens puxavam com muita força o enorme animal tentando  levá-lo de qualquer forma  até o local do abate. O juiz Millus diante daquela cena que o deixou impactado emocionalmente interveio perguntando: O que vocês estão fazendo com este animal? Vamos abater o bicho para vender a carne em pedaços na feira da vila, respondeu um dos homens que tentava levar o porco acima do barranco. O Juiz Millus cruzou o seu olhar com o do porco e notou que os olhos deste estavam cheios de lágrimas. Interveio com rigor dizendo: Ele não é um bicho, é um ser vivo. Não façam isto! Se vocês o matarem quanto isto vai render em dinheiro para vocês? Um dos homens ali presente respondeu:  Pela venda da carne vamos ter um rendimento de uns seis mil reais. O porco pesava em torno de 300kgs. e era enorme. Estava desesperado, alaria e gritava como uma criança sendo espancada. O juiz Millus foi incisivo: Eu pago dez mil reais por ele, tá bom? Um dos homens respondeu, tá bom, aceito! O Juiz  Millus lhe falou, me dê meia hora que eu vou buscar o dinheiro. Os homens pegaram a corda que prendia o pobre coitado pelo pescoço e o amarraram na árvore a espera do comprador.  Enquanto voltava para a fazenda para pegar o dinheiro o Juiz Millus imaginava como colocar o grande porco na carroceria da caminhonete. Ele era um homem esperto e muito inteligente. Estava trazendo consigo uma carta na manga: Um piano automático portátil que dera de presente anos atrás a sua única neta, sendo que esta agora já é uma mocinha e não toca mais o piano. O Juiz Millus muito rapidamente voltou com o dinheiro entregando-o a um dos homens que assinou um recibo e o pobre porco estava livre do abate. 

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Voltando ao lugar onde estava o porco, ao fazer o pagamento pelo mesmo ouviu de um dos homens ali presente, que todos juntos ajudariam a colocar o pesado animal na caminhonete. O Juiz Millus lhes disse: Não precisa fazer nada, deixem que esta tarefa é minha agora. Os homens ficaram olhando um para a cara do outro, todos surpresos. O Juiz Millus subiu o barranco, retirou a corda do pescoço do pobre animal, desceu até o veículo e, em cima deste ligou o piano com uma música bem suave. O porco repentinamente se acalmou e se levantou. Caminhou até a beira do barranco onde estava a caminhonete e subiu na caçamba em direção ao piano sem nenhuma hesitação. O Juiz Millus fechou a caçamba e disse obrigado e até logo aos homens. Estes ficaram estupefatos diante do que estavam vendo e ficaram imóveis como estátuas sem entender nada. Chegando na fazendinha o Juiz Millus contou com a ajuda de um assistente e colocaram o porco com muito cuidado em um local apropriado. Esta criatura de quatro pés, agora bem calma, não parava de derramar lágrimas, desta vez, lágrimas de gratidão por  alguém que agiu com um gesto nobre de compaixão. Este ser vivo salvo de uma morte brutal era o primeiro animal de uma série de muitos outros. Recebeu carinhosamente o nome de “Julião” o porco querido do juiz Millus. 

Aqui convém fazer uma abertura para um fato de grande importância: Uma parcela muito grande de pessoas não sabe que a música exerce um fascínio enorme sobre os animais. Isto é algo indiscutível no meio acadêmico. Só falta descobrir precisamente em que parte do cérebro dos animais este fato ocorre. Grandes pecuaristas dos Estados Unidos da América e também da Austrália e Europa usam o artifício da música para reunir seus rebanhos. Não é o som de qualquer instrumento que produz o resultado esperado. A sonoridade dos instrumentos musicais para produzir este resultado deve ser oriundo de pianos,  trombones, violinos, sanfonas, clarinetes e outros instrumentos de sopro e também outros de cordas. O som deve ser sempre suave e de grande profundidade para produzir o resultado. Animais como caprinos,  suínos e outros também respondem positivamente a este fato.  

A partir do dia em que ocorreu o episódio com o porco, o Juiz Millus sai com frequência junto com um dos seus assistentes pelas cercanias da região, sempre à procura de animais que sofrem maus tratos, animais velhos abandonados como cachorros, gatos, cavalos, jumentos, burros, aves e muitos outros. É  uma tarefa que faz com muito gosto e entusiasmo. A sua fazendinha passou a ser um santuário de animais sofridos.  Foi  credenciada pelas autoridades e referenciada como um modelo exemplar.

Algum tempo se passou quando um outro acontecimento inesperado chamou abruptamente a atenção do Sr. Millus. Um dos seus vizinhos em uma fazenda um pouco mais distante tinha um touro velho preto muito bravo que não deixava ninguém se aproximar dele. O proprietário decidiu então abatê-lo atirando nele uma vez que o meio tradicional de abatimento não podia ser posto em prática visto a agressividade do animal. Sabendo disto, o Sr. Millus correu rapidamente até lá e comprou o touro. Reuniu oito homens com cordas que usadas como laços imobilizaram o touro levando-o para a fazenda  santuário. Lá chegando foi solto em uma colina verdejante inundada de flores silvestres. Era uma primavera inesquecível. Ele se  lembrou de uma figura icônica muito famosa e colocou seu nome no touro que acabara de chegar ali: O touro “Ferdinando”, o cheirador de flores”. Houve também um outro fato que envolvia um pobre jumento com um ferimento grave no dorso das costas de tanto puxar carroças de entulhos e lixos da cidade próxima. Sabendo disto, o juiz Millus interveio e comprou o animal do carroceiro insensível. Ao chegar no santuário o jumento recebeu o nome de “Faustino”. Houve também um outro caso envolvendo um burro velhinho muito maltratado que depois de ser acolhido recebeu o nome de  “Esmeraldo”

Um dos mais tocantes episódios envolvendo o interesse do Sr. Millus em socorrer animais em risco de vida ocorreu  quando soube de um cavalo doente abandonado para morrer em um lixão. Correu para lá e ao chegar ficou horrorizado com o estado do animal. Este era só pele e ossos e estava imóvel, só os seus olhos ainda se moviam. Reuniu todo um esforço e com vários homens colocaram na caçamba da caminhonete o que restava do pobre animal e o levaram para a fazenda. Chegando lá o animal foi entregue ao veterinário que desesperançoso o atendeu. Foi medicado, tratadas suas feridas e foi alimentado através de sondas pois não tinha forças nem para abrir a boca. Foram dias de agonia, de um lado o animal resistindo e do outro os seus salvadores tentando mantê-lo vivo. Vários dias se passaram quando o animal mostrou sinais de melhora. Dai em diante o progresso animou a todos. Algum tempo depois o animal já ficava em pé e dava alguns passos. O seu estado físico foi lentamente se restaurando  e alguns meses depois já andava sozinho pela fazenda.  Não demorou muito o cavalo recuperou todo o seu estado pomposo e se tornou um belo animal correndo por toda a fazenda.  Como era um cavalo banco recebeu do Sr. Millus o nome de “Aladdin”.   

O tempo foi passando com a mesma atividade de recolhimento de infelizes criaturas tendo continuidade. Numa certa ocasião, o Sr. Millus resolveu fazer uma enorme cama forrada de feno em uma área circular coberta. A cama era baixa para permitir o acesso de qualquer animal. Demorou um pouco até os animais perceberem a utilidade. O juiz Millus tinha o hábito de andar sozinho pelos campos da fazenda, sendo frequentemente acompanhado de alguns animais que decidiam segui-lo. Em uma ocasião ele se deitou na vasta cama e foi logo seguido por um grupo de animais que ali se alinharam juntos, deitados ao seu lado. Isto se tornou frequente, tamanha era a interação entre ele e a prole. 

Ele tinha por hábito colocar em um saco grande, diversas frutas e legumes cortados em pedaços e saia distribuindo entre todos os animais que encontrava por onde passava. Naturalmente o saco tinha que ter o peso que ele podia carregar, pois ele já tinha uma certa idade e agia com cautela. Quando isto acontecia criava-se um cenário de uma grande beleza onde o amor estava bem disseminado entre todos. 

Uma cena que ficou eternizada entre todos os que viviam na região ocorreu da seguinte forma: Numa manhã cedo depois de fazer a distribuição das iguarias entre os animais, sob um sol matinal que acelerava esquentar a grama orvalhada da madrugada fria, o Juiz Millus encontrou um lugarzinho já quente no gramado e nele se sentou para curtir melhor o dia que se iniciava com alegria no ar e o cantarolar desenfreado de pássaros. Estava um pouco cansado e não demorou muito, caiu num cochilo e em seguida adormeceu sob um sol que o acalentava. Passado quase uma hora, acordou brusco com uma algazarra de patos e gansos quase brigando entre si. Recuperou sua posição no tempo e espaço e percebeu que onde estava deitado havia também a companhia de vários animais,  entre estes, deitado ao seu lado estava o “Julião” seu porco querido, o Aladdin acompanhado ao seu lado de outros animais como uma vaca, o seu cachorro de estimação o “Thor” despojado sobre as pernas do Juiz Millus, vários outros animais como um cervo, um coelho e outros. A sua frente, a uns quatro metros de distância estava o “Ferdinando” o touro cheirador de flores, sentado, fitando com os seus olhos brilhantes aquele que o salvou de ser morto a tiros. Estava também ali ao seu lado o “Faustino”, o jumento do carroceiro que estava com a cabeça toda enroscada no fundo do saco tentando encontrar um pedaço de fruta. Também estava presente o “Esmeraldo” bem aprumado. Era uma cena onde faltava muito pouco para se comparar à Manjedoura onde JESUS se encontrava no estábulo há mais de dois mil anos. Lá no alto em um lusco-fusco estelar distante, Belchior, um dos três Reis Magos dizia a seus companheiros Gaspar e Baltazar, calma gente, não desçam lá embaixo, pois aquele lá embaixo não é   JESUS é apenas o Juiz Millus. Aqui em baixo, o cenário desatinado onde os patos se envolviam numa contenda de grasnar acirrada sem fim com os ganso, estes primeiros afirmando que era JESUS ali deitado no chão enquanto  os gansos irredutíveis defendiam que era apenas o Juiz Millus. O homem meio tonto se levantou, recompôs-se do cochilo, surpreso com o que via, sacudiu a sua roupa enquanto os gansos e os patos pararam de grasnar chegando a um acordo, todos testemunhando que de fato era o Juiz Millus que ali estava deitado.  

Esse tom de brincadeira que acabou em um desague relaxado não faz parte deste elenco de memórias. Foi apenas uma inserção de gracejo da parte deste velho banco de madeira que às vezes se envolve na inocência das cousas. 

O Juiz Millus  sempre lidou com seres humanos de todos os tipos e comportamentos. Aprendeu a ser calmo e sereno em toda e qualquer circunstância sempre ouvindo com atenção e paciência ao que falavam os corações de cada um. Eram humanos, muitos desgarrados da sociedade, tantos outros injustiçados pelo ardor da vida. Agora deixara de atender essas criaturas e passou a atender aqueles que procuravam se expressar através de gritos, gemidos, latidos, miados, mugidos, grasnados  e choros sem que ninguém lhe desse atenção.  Ouvia atentamente o que o coração destas almas chagadas tentavam falar sem que ninguém lhes entendessem e tivessem interesse. Essa sua mudança ocorreu depois que adotou e passou a ser o tutor de um pequeno filhote de um cãozinho preto muito fofo, aquele tipo de pet que pela cor muita gente rejeitava. Esse cãozinho cresceu, cresceu e se tornou um formidável companheiro de vivência onde lhe ajudou  a descortinar o fascinante e misterioso  universo espiritual dos animais. Foi batizado honrosamente com o nome de “Thor”. 

Este convívio lhe despertou a importância do pet como animais guardiões da vida. Algo muito precioso que a grande maioria das pessoas  não tem ideia do bem que eles fazem as suas vidas. Elas não sabem e não conhecem o poderoso foco vibratório que tem a alma de um cachorrinho, a alma de um gato, de um coelhinho, a alma de uma ave principalmente de um papagaio, de um pato, um ganso, a alma de um cavalo, um boi, uma vaca, um jumento, uma ovelha e diversas outras. Essas almas tem o poder de gerenciar, inconscientemente, fluxos energéticos desagradáveis e maléficos poupando alguns membros da família de humanos  da casa de problemas ruins.

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Estão todos muito longe de compreender este fato  mesmo com o conhecimento que se tem hoje sobre o contexto espiritual da vida terrena. Por trás do corpo vivo dessas criaturas há uma alma, um espírito estruturando e personificando a sua individualização. Sabemos muito pouco da importância desses seres em nossas vidas. Os psicólogos e estudiosos estão enfatizando e sempre orientando a conveniência de se ter um pet em casa para promover um bem estar melhor para crianças e  pessoas idosas porque o sentir-se querido e o sentir-se feliz ativa mais intensamente  o foco vibratório dessas criaturas em benefício das pessoas. Há registros de pessoas com famílias numerosas que ao chegar em casa, alguém vindo do trabalho ou de uma viagem, a única criatura  que se sente mais feliz é o cachorro. Isto representa a importância da  questão de sermos bem recebido com afeto e festas. Os animais sabem fazer isto muito bem, mesmo aqueles que não são tão festivos como os cães. Este gesto por parte dos animais acalma os estados aflitivos das pessoas  e produz  equilíbrio.

No campo das revelações espirituais este fato ainda não está totalmente esclarecido. Cada espécie da natureza terrena tem a sua manifestação. O jacaré tem a sua natureza de ser jacaré. O leão tem a sua natureza de ser leão e assim por diante. O quê determina isto? É o DNA de cada uma dessas criaturas porque os espíritos desses animais são neutros. Eles não tem a bagagem senciente no sentido de produzir a razão ou de produzir a consciência de si mesmos. O leão é um leão porque o DNA dele o faz um leão. A alma de um leão não tem como não ser de um leão. A alma de um leão não tem a menor simpatia acumulada de vivência com humanos. A alminha que nasce com o DNA de cachorro já tem a simpatia por humanos. Há uma coletânea de vivência dessa espécie ao longo da evolução da natureza terrestre. É importante que a gente perceba que as almas obedecem a todo um processo evolutivo desde o reino mineral ao vegetal. Aqui ocorrem as transições de fases no salto quântico até se mergulhar no reino animal onde o psiquismo desperta sobre a forma de instinto. O instinto do jacaré, o instinto do leão tem exatamente a haver com o que a alma deles vem colecionando ao longo dessa travessia. A alma do cachorrinho no que se refere ao reino animal é mais evoluída do que a alma do jacaré, do leão. A alma do cachorrinho já passou pela fase da alma do jacaré, do leão. No reino animal, ainda irracional, a espécie dos cães ocupa um lugar bem  interessante e de destaque. O cão gosta de você e de todo mundo. Ele ama incondicionalmente e fervorosamente. O cãozinho já nasce sabendo amar. Nós humanos levamos a vida inteira  e muitas vezes não aprendemos a amar. Precisamos refletir bastante sobre este aspecto. Em todas as espécies de animais na natureza, a única que segue à risca os conselhos de JESUS é o cão. Já os gatos não gostam de todo o mundo. Eles escolhem de quem eles vão gostar em um ambiente familiar. 

Na interação dessas alminhas com os seres humanos quando essas criaturas amam é uma riqueza de sinalização amorosa bem clara, impressionante e muito útil ao convívio pacífico no seio dos humanos. A importância de se ter um animal de estimação em casa é uma recomendação insistente no meio psicológico. Faz muito bem às pessoas, complementando o senso de família, transformando o dia dos humanos em dias melhores, mais agradáveis com alta estima e bem querer. 

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Há um acontecimento notável envolvendo a interação de cães com os humanos. Aconteceu com a presença do Juiz Millus que foi um dos protagonistas de um drama surpreendente  em um caso onde o mundo espiritual marcou uma presença muito intensa. Em um certo momento à noite, depois de cumprir todas as tarefas incessantes do dia, o Juiz Millus já em recolhimento  foi surpreendido com um chamado urgente em frente ao portão de sua casa na fazendinha. Era um senhora vizinha a sua propriedade que implorava por um socorro urgente ao Juiz Millus. Ela lhe pediu que fossem urgentemente a sua casa, pois tinha um filho passando mal e não dava tempo de procurar um socorro médico. Entraram apressados em um carro e para lá se dirigiram. Chegando em casa se depararam com o drama grave de um rapaz que se debatia no chão em convulsão, tremendo e gritando alto com uma crise nervosa incontrolável. Tomando conhecimento, na hora, de que era o filho mais  velho da senhora e que estava ausente há mais de oito anos e que era um usuário de drogas pesadas. Havia chegado em casa naquele mesmo dia já passando mal e que ali se encontrava naquele estado lamentável sem que ninguém pudesse fazer nada. A senhora e todos os seus familiares ali presentes, junto com o Juiz Millus começaram a fazer preces e a orar para atenuar o  problema.   Enquanto o rapaz se debatia descontroladamente no chão, o Juiz Millus fez valer, silenciosamente, de um dos seus dons que é o de mergulhar no mundo sutil para compreender certas situações. Inteirou-se de que o rapaz pelo uso contínuo das drogas estava tomado por um espírito maligno  que puxava com força uma corda amarrada no seu pescoço tentando arrastá-lo para o mundo das trevas. O rapaz lutava com todas as suas forças para se livrar daquela situação terrível, mas não conseguia. Inteirado deste fato, o Juiz Millus percebendo que as orações e preces não produziam nenhum efeito, perguntou apressado à senhora da casa se havia ali um cachorro. Ela respondeu que sim, mas que era um cachorro pequeno. O Juiz Millus disse que não importava e que trouxessem rapidamente o cão para o local do incidente. Assim o fizeram. Quando o cachorrinho que estava em um outro ambiente entrou correndo na sala onde estava o rapaz  se atirou sobre o seu peito sem camisa num misto festivo, de afeto,  e de desespero ao ver o seu dono daquele jeito, lambendo todo o seu peito e seu rosto numa euforia  incontrolável, onde latia, gemia e chorava descontrolado. Sob o olhar de todos os presentes, o rapaz foi dando sinais de que estava superando aquela fase terrível. O cachorrinho não parava de prestar aquela assistência “espiritual” quando de repente o espírito maligno foi perdendo forças,  soltou a corda em volta do pescoço do moço, sentiu perder a contenda e se retirou para alívio do rapaz. Naquela hora ele parou de tremer e lentamente foi se recompondo, física e emocionalmente. A festa de alegria do cachorrinho se completou quando a crise passou. A alegria de todos foi geral e o Juiz Millus chegou a chorar de emoção. O amor do cão para com o seu dono foi maior do que a força das preces e orações de todos ali na sala. O amor do animal superou o amor dos humanos juntos lá no ambiente. Foi maior no sentido da incondicionalidade, da pureza de coração. Acontecimentos dessa natureza escondem processos espirituais importantíssimos para o aprimoramento do conhecimento humano sobre o mundo espiritual. Estamos ainda muito longe de entendermos este processo evolutivo. 

Se você puder ter em casa um animal de estimação,  qualquer que seja um deles, é muito importante para o bem estar familiar. É muito difícil uma casa que tem crianças, animais de estimação vivendo em conjunto familiar, que haja problemas de ordem espiritual. A alma dos animais opera em um padrão de contribuição altamente benéfico para com a alma dos humanos. No incidente com o moço que retornou a sua casa muito doente, o amor do cãozinho foi igual ao amor de JESUS por nós humanos, onde chegou a interromper uma investida muito forte de uma entidade das trevas. Quando o rapaz saiu de casa tempos atrás deixou o seu cãozinho pequeninho aos cuidados de outros e, este oito anos depois o reconheceu imediatamente.

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Passado este acontecimento que deixou marcas em todos, o Juiz  Millus tomou a iniciativa de convidar o rapaz para trabalhar lá no santuário, fato este que foi muito bom para o moço, pois o convívio em um ambiente onde o amor  prevalecia sobre todas as coisas foi vital para erradicar o terrível vício das drogas que quase ceifou a vida do rapaz. O tempo passou e o rapaz recuperou todo os seu potencial de saúde e se curou. Onde há o amor puro, o mal não prevalece. 

O conteúdo desta narrativa foi o que provocou a avalanche de lágrimas no rosto da jovem Elizabeth quando esteve ao lado do Juiz Millus, ambos sentado no velho banco de madeira na trilha do parque da cidade. Ela compreendeu que o DNA do Juiz  Millus está envolto em uma membrana de Luz, uma Luz que é a própria essência de JESUS em Amor Puro. Ela compreendeu que fazia parte deste maravilhoso mundo. Esteve apenas um pouco distante, ausente, mas que agora procurava retornar para casa. Esta foi a razão da sua ardente declaração de amor pelo Juiz Millus. 

Os animais quando se sentem amados pelos seus donos têm uma percepção muito aguçada do ambiente sutil no qual vivem. São capazes de perceber qualquer vibração ou alteração.  Sentindo-se amados eles se armam do amor incondicional pelos seus donos e reagem protegendo-os de perigos dos mundos invisíveis. Há muitos registros feitos pelos  donos de cachorros, estes com o olhar fixo no alto fitando coisas que só eles enxergam. Em alguns casos o olhar permanece fixo e sereno sem o cão esboçar nenhuma reação. Nestas situações, segundo espiritualistas, eles estão visualizando anjos. Já em outros casos quando há reações de ataques, a visão é de entidades das trevas ali presentes que acabam se afastando.

Voltando um pouco atrás nesta viagem fascinante, o  arquivo dessas maravilhosas memórias se interrompeu no instante em que o Juiz Millus e a jovem Elizabeth se levantaram do assento do velho banco, pois a captura de memórias só ocorre quando alguém está sentado no banco. 

Este conteúdo de memórias classificadas como notáveis não é baseado em ficção. Constituem fatos reais e estão acontecendo em muitos locais do nosso planeta. É lamentável que as pessoas não se inteirem destes tesouros reais, pois se assim o fosse, o mundo seria bem melhor. Os únicos elementos de ficção neste drama inesquecível são as identidades dos figurantes que tiveram os seus verdadeiros nomes preservados em sinal de respeito e proteção. Obrigado! Obrigado! Obrigado!

Pi-Nath

Um sonho doce e amargo.

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Uma certa noite, dias atrás, eu tive um sonho deleitável, daqueles carregados de simbologias e ascetismo.

Sonhei que estava em um penhasco muito alto, onde dava para ver, de cima, aves grandes esvoaçadas voando lá embaixo. Havia um vale verdejante com rios e florestas densas, tudo muito colorido, cheio de detalhes e com uma nitidez bem acima do normal. Tenho tido sonhos como este e outros com muita frequência. Fazem parte das viagens de minha alma ansiada pelo mundo.

Não pude conter o impulso de me atirar lá do alto do penhasco, não por desespero, mas por convicção de uma realização sempre repetida. Assim o fiz e sai voando extasiado como um grande pássaro. Aliás, duas coisas estão sempre presentes nestas horas: Minha fé inabalável de que vou voar e a frequência com que isto acontece.

Era tão nítido e real este sonho, que todos os atributos fisiológicos de uma pessoa normal estavam presentes, como ansiedade, um certo receio de cair, frio intenso na barriga e uma adrenalina no topo. Não faltou, um uauu!!, uauu!!, repetidas vezes. Havia uma euforia incontida e um clima de contemplação fora do comum. Senti me distanciar daquele cenário deslumbrante e me dirigir, acima das nuvens, a um outro cenário mais escuro com estrelas brotando aqui e ali.

De repente tudo se torna escuro e um tapete de estrelas se descortina em cascata, arrancando de mim um outro uauu!! uauu!!. Senti o labirinto da vida se afastando e o portal das alturas se abrindo… Estava eu em estado de graça agora, navegando em delírio num infinito oceano de estrelas, completamente deslumbrado, anestesiado. Não sei se era eu, de fato, feito minha alma ou se era minha alma feito eu, de fato. Só sei que, o que eu estava vivenciando não podia ser um sonho, pois era nítido demais e, havia ali, ao meu lado, uma presença bem forte, ligada à vida real. Alguém que eu conhecia e  amava. Continuei com a minha exclamação: Uauu!!, uauu!!.  De repente, comecei a descer, descer, enquanto a presença forte daquela criatura viva em vida continuava a subir, subir gloriosa, rumo às estrelas. As cortinas das estrelas se fecharam atrás de mim.

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Desço lento e confortavelmente sobre a superfície macia das areias. Senti um doce fracasso, mas sabia que haveria uma outra sequência. De fato, tudo se apaga e se abre novamente. Só que desta vez estou em uma praia. Silhuetas escuras, salpicadas de miríades luminosas abrem-se lentamente diante de minha visão fixa.

Descortina-se um cenário de penumbra silenciosa, serena, em duplicidade: Céu e Mar. Ouço o canto de aves do mar e o quebrar de ondas estalando pelo ar. Estou no corpo de uma concha. Sou agora um molusco do mar. Não estou triste nem desapontado. Estou agradecido a Deus por mais uma doce concessão em mais uma de Suas Criações. Toda concha tem uma pérola, seja ela, grande ou pequena. Não a vejo!  Não a sinto!  Não a tenho!  Mas, entendo! A pérola é minha alma, aquela que me foi concedida para estar sempre em uma infinita travessia pela seara da Criação.

O mar agitado quebrando ondas em chuá, chuá, chuá, desnudando meu corpo de concha solitária, levou embora a pérola, minha alma. Sou agora uma peça imóvel em um cenário de praia agitada sob a luz de um luar desenhando sombras e fantasmas sobre o palco das areias embranquiçadas. Passam coisas de dois, quatro pés e mais, me bicando, me bulindo, me virando feito trapo velho nas garras e nos pés de um cão estouvado. Solto lágrimas, solto gritos perdidos no silêncio de minha alma bem, bem distanciada. Estou inerte entre o céu e o mar. Estou morto. Estou vivo. Estou na Eternidade.

Acordo feito um cão embaralhado. Busco um sentido. Sinto minha alma distanciada. Eis que volta sorrateira e se deposita despreguiçada nesta concha que ora é o meu corpo respaldado na ausência e presença da minha alma gêmea: Corpo e alma. Sou agora um peregrino ansiando compreender este sonho amoldado no meu jeito de ser. Nada mais me é estranho. Tudo me parece sereno e eterno.  Estou pronto para mais um passo neste cenário transloucado.

O sonho que parece real é apenas um sonho, uma ilusão. O real que nos parece real é apenas um sonho que parece real, mas também é uma ilusão.

Tudo aquilo que nos parece real ou um sonho, é impermanente e, portanto é uma ilusão. Somos poeira das estrelas em uma trajetória de ilusão eterna. Somos peças de um pequeno grande teatro chamado vida. Ao se fecharem as cortinas, acaba-se o sonho, continua a ilusão.

Há uma expressão no seio da espiritualidade que diz: “Quando nascemos, choramos e o mundo sorri. Quando morremos, o mundo chora e nós sorrimos”. Eu continuo chorando desde que nasci. Um dia, vou parar de chorar e vou sorri para toda a eternidade. Eu compreendi todo o meu sonho. É um alento. Não um tormento. Aprendi desde cedo, que neste mundo de ilusões e tormentos só uma coisa tem valor: O Amor isento do tormento.

Pi-Nath
A rainha e a concha (40)

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Ler o texto no 00:40

“O mar, sereno mar, numa madrugada descansada, estou eu a olhar as águas paradas, recuadas, espelhadas. Céu silencioso, aproximado, fundido ao mar feito terra e água. Tantas estrelas no céu. Tantas estrelas no mar. Não sei se é o mar que está em cima ou se é o céu que está em baixo. Estou silenciado, vidrado. Não sei se nesta hora, sou eu a contemplar o céu e o mar ou, se é o céu e o mar que estão a contemplar esta concha vazia, solitária e abandonada. Com certeza nada está vazio e solitário. Tudo está imerso na essência do nada.

O mar, sereno mar, em contemplação noturna, minha alma está no mar, está no céu, junto a ti, junto às estrelas. Está em mim, está em ti.

És uma rainha no céu entre as estrelas. Sou um rei entre pedras, troncos retorcidos e rochedos. Teus lamentos a chorar, dádivas em tiras perfumadas, a ti enlaçarem. Teus querubins tocam harpas serenas sobre pias batismais. Em meus anseios e desejos, ouço apenas rugidos e o lamento tortuoso do mar.

Minhas lágrimas, areias encharcadas são lavadas pelo mar. Há mais de minhas lágrimas misturadas junto ao mar que tuas lágrimas espalhadas no céu de estrelas silenciadas. Sou um rei no chuá, chuá, chuá das ondas no mar serenado. Minha mão não te toca. Tua mão não me toca. Tu estás lá no alto. Eu estou cá em baixo. Silêncio no luar, serenidade no mar. Suspiro no ar, saudade do lar. 

Tuas lágrimas, lenços perfumados de cetim a enxugar e a ti confortar. Minhas lágrimas, finas areias encharcadas a reclamar e a lavar. Entre estrelas, eterna contemplação a ti amparar e a ti contemplar. Entre chuá, chuá, chuá, espumas brancas de noivas apressadas a me atormentar. No lar de lá, eu ainda permaneço do lado de cá. Cheio de lá. Vazio “de cá.”

Pi-Nath

Completamos assim, a parte literária com este escrito poético que foi mostrado acima. 

Para dar um toque de riqueza na constatação de que a música  exerce um fascínio nos animais, como no histórico do porco Julião, vamos ver abaixo um vídeo com um belo exemplo. 

Agora uma sobremesa adorável